Observando tanta coisa relacionada a Trump, nazismo, comunismo, direita, esquerda que me faz entender por que tem gente em 2017 que voltou a defender a terra plana e a não vacinação.
O pior é gente “esclarecida” querendo defender que o nazismo não é de “esquerda”, para automaticamente taxa-lo de “direita” e pior, usar de uma desonestidade intelectual tamanha para incutir dúvida, comparando ambas vertentes a escolas de pensamento econômico.
Vamos começar por uma coisa. O nazismo não é de esquerda, e nem de direita. Ele é um movimento político fascista, racial, ditatorial e se comporta exatamente assim na economia. Pára com esta besteira de chamar tudo que você não gosta de nazismo.
A ‘esquerda’, para parecer “do lado do bem” adora associar ao nazismo e ao fascismo tudo que não lhe agrada. Obvio, é a saída fácil do debate, associe o seu “inimigo” ao que existe de pior e solte a máxima “eu não discuto com fascista”.
Agora a ‘direita’ tenta usar a mesma tática, pegando no nome “nacional socialismo” e o viés intervencionista na economia para associar ao socialismo/comunismo. Bem, você também está errado.
Vamos superficialmente ao ponto de vista econômico.
Os pseudo-keynesianos acreditam no papel do estado interventor pesado, de maneira a ajustar os desequilíbrios típicos do ‘capital’ e adoram citar a “socialização de investimentos” como se Keynes fosse um socialista nato.
Além de Keynes ser para lá de longe de um socialista, o termo socialização nunca quis dizer ESTATIZAÇÃO ou NACIONALIZAÇÃO dos investimentos.
No termo socialização, ele entendia que se não se ausentava “todo tipo de compromisso e dispositivos pelos quais a autoridade pública cooperará com a iniciativa privada”, algo como as PPPs (parceria público privadas) no Brasil, ou “marromêno” o que levou às distorções na economia brasileira nos investimentos em infraestrutura e de banco de fomento.
Do outro lado do espectro econômico, já que estamos falando de dicotomias, estão os liberais. No ponto de vista raso, o ‘liberal’ acredita na ausência total do estado na economia e principalmente, de regulações e que em caso de problemas, a “mão invisível do mercado” deve resolver tudo sozinha. Ledo engano, como provado em 2008, durante a crise das hipotecas. Foi necessária a pesada intervenção do governo para evitar uma enorme quebradeira.
Citei estas duas vertentes econômicas (e não vou me aprofundar mais, pois o texto não é exatamente sobre isso), pois muitos gostam de associar uma vertente à esquerda e a outra à direita.
Aí está o problema, esta porcaria de pensamento binário reducionista.
Uma pessoa que defenda a menor presença do estado na economia pode facilmente defender bandeiras de igualdade social e em favor de minorias. Assim, como alguém que defenda uma forte presença do estado pode ter um viés mais conservador, em defesa do que se considera a família binária tradicional, religião e porte de armas.
Exemplo disso foi a ditadura brasileira. Ela pode ter sido de “direita” em termos políticos, mas foi de pesada intervenção estatal em praticamente todos os setores da economia, com enorme protecionismo (os mais velhos lembram da reserva de informática?) e totalmente inversa ao liberalismo econômico.
Exatamente o oposto da pesada ditatura de direita chilena, a qual operou sob forte liberalismo.
O equilíbrio entre os diversos pensamentos econômicos gerou enormes avanços em diversas nações no mundo.
Países como Canadá, Reino Unido e alguns países nórdicos tem estados de bem-estar social de dar inveja em qualquer socialista, enquanto economicamente, operam com alto grau de liberdade econômica. O ‘caminho do meio’ como diz o budismo.
Portanto, vamos aparar algumas arestas dos dicotômicos:
• Um pensamento de maior liberdade econômica não pode ser taxado automaticamente de direita;
• Um pensamento de maior presença do estado não pode ser taxado automaticamente de esquerda;
• Defender causas de igualdade social e respeito às minorias não são exclusividade de grupos de esquerda;
• Defender pensamentos totalitários não é exclusividade dos grupos de direita.
De volta ao nazismo. Pessoal, pelamordeKannon, isto é algo completa e totalmente indefensável. Nada que levemente se conecte ao nazismo pode ser defendido, NADA.
Não é de esquerda, não é de direita, é simplesmente uma retórica racista, eugenista e totalmente dissociada dos ideais de liberdade humana. É o humano na sua pior forma, destituído do pensamento de Schopenhauer de que “a compaixão é a base da moralidade”. É o nível máximo da bestialidade, o momento em que psicopatas tomaram o poder.
Tendo isso em mente, vamos ao presidente americano.
Quando o presidente americano reduz o problema “às duas partes, igualmente violentas” e que “existe gente boa no meio aos protestos”, me desculpem seus defensores, ele cometeu a pior cagada de um presidente americano em séculos.
Gente, eu sei, a “esquerda” americana costuma, de verdade, ser chata pra cacete, bem chata mesmo. Inclusive, muitas situações de extrema intolerância de ideias foram provocadas por este movimento de “esquerda”. Lembram do menino com dreads celtas na faculdade?
Outro exemplo foi a palestra de Milo Yiannopoulos em Berkley, a qual foi cancelada após violentos protestos por sua presença. Isso é sim intolerância, falta da capacidade cognitiva de combater ideias com debates.
Pois é, Milo nem de longe é um nazista. É conservador, tem ideias polêmicas, mas não é um nazista.
Aí muitos dizem “Ah, mas pelo preceito americano, os nazis tinham o direito de protestar e os liberais (progressistas nos EUA) foram lá e causaram confusão, que acabou na morte da menina”
Sim, é a liberdade de expressão americana, os caras tinham direito de protestar e foram interrompidos, mas a morte da moça, apesar de uma trágica e irreparável perda humana, não é o foco aqui.
A COISA É SIMPLES, ERAM NAZISTAS. N A Z I S T A S, SUPREMACISTAS BRANCOS. Não tem “boa gente” ali no meio, são N A Z I S T A S. Trump deveria ter condenado simplesmente a isso e o fato de símbolos americanos estarem sendo profanados (bandeiras) com aquilo exatamente que os EUA combateram fortemente na II Guerra Mundial.
Aí em que Trump ficou indefensável. Acabou o papo de esquerda e direita aqui.
Não existe elasticidade ou distensão moral neste caso. Ele tentou relativizar o fato citando a intolerância dos grupos de esquerda, o que em partes ele teria razão, se o outro lado não fosse NAZIFASCISTAS. A treta não foi o problema, a MARCHA em si foi.
A eleição de Trump em partes é uma reação aos exageros de movimentos progressistas, ditos de ‘esquerda’ ao sequestrarem diversas bandeiras sociais de inclusão, igualdade e liberdade de onde as ‘cartilhas’ não podem ser interpretadas de maneiras diferentes senão daquelas ditadas por estes grupos, sob pena de se ser taxado de fascista.
Chegam ao ponto de defender o islamismo sem reservas, exatamente aquele que vai contra todos os ideais progressistas.
Ou seja, você está com eles 100% ou está contra eles, não se aceita um meio termo.
Para resumir tal textão, caso você tenha tido a paciência de chegar até aqui, é o seguinte:
• Não confunda vertentes econômicas com vertentes políticas, durante a história elas se misturaram absurdamente. Não é por que você acha que o liberalismo é de direita e o estado grande é de esquerda, que isso está certo;
• Nazismo não é de direita ou de esquerda, a coisa tem muito mais lados que esta mera simplificação;
• A maioria dos pontos de vista que você, amigo progressista, não concorda não são fascistas, isso só serve para evitar o debate;
• Meu amigo de “direita”, o mesmo vale para você;
• A “esquerda” americana (chamados liberals) tem dado reiterado sinais de intolerância e truculência, evitando o debate também;
• Ainda assim, isto NÃO justifica o apoio de Trump aos NAZISTAS. Não é sobre a morte de alguém, é sobre o significado da marcha;
• A marcha não foi só contra a derrubada de estátuas, foi uma demonstração de força;
• Você pode gostar do Trump, mas precisa entender que ele fez, sim, uma das maiores cagadas históricas ao misturar as coisas na hora errada.