Como podemos saber se uma autoridade monetária fará algum movimento diferente daquele em voga? Simples, comunicação. Este é um dos principais instrumentos de um Banco Central para sinalizar mudanças, pretensões ou mesmo, manutenção de políticas.

Esta mesma comunicação foi usada de maneira clara e direta pelo Federal Reserve por quatro anos antes da eclosão da crise de hipotecas e foi sumariamente ignorado pelo mercado. Pronto, o resultado não poderia ser pior.

Alguns Bancos Centrais levam mais a sério do que outros o quesito comunicação e alguns presidentes ou membros costumam ser mais diretos, outros indiretos e alguns até sutis. No Brasil, a última ata da reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) não apontou para uma elevação de juros em abril, mas não foi nada sutil em mostrar uma alta neste ano.

O sinal vem da deterioração das perspectivas de inflação deste ano e do próximo, principalmente pelo fato de certamente superarmos a irreal meta de 4,5% ao ano. Mas a conta não é tão simples.

Discutimos e rediscutimos aqui como o governo tem errado em algumas premissas importantes e uma das maiores delas é referente ao estímulo econômico. Mesmo com o consumo em baixa, o desemprego nos níveis atuais mantém a renda alta.

Esta renda alta, mesmo que não voltada ao consumo de bens, se acumula e abre espaço principalmente para o consumo de serviços. Nem precisa dizer, todo mundo já notou isso. Em São Paulo principalmente, os custos estão proibitivos.

Uma saída à noite não sai hoje em dia por menos de R$100, sem grandes pretensões e uma reportagem do UOL de ontem mostra quem o custo de cabelereiro subiu em média 67% em um ano.

Ponha nessa conta a elevação dos custos de alimentos, temos uma bomba inflacionária altamente difícil de desarmar, pois são itens claramente insensíveis à elevação dos juros. Um aperto monetário só seria eficiente neste caso se causasse uma contração econômica.

OPA, perái! Não é exatamente contra isso que o governo vem lutando há mais de dois anos? Aí está a complicação da conta, pois juros mais altos tem maior eficácia em bens com necessidade intensiva de crédito e por enquanto, ninguém está indo ao cabelereiro, indo ao cinema ou lavando o carro com financiamento. E pior, deixar de comer também não é opção, principalmente pela alta generalizada do preço dos alimentos.

Já cansei de dizer no que eu acredito em termos de política para estímulo da economia e no Brasil, a baixa produtividade é só mais um componente dentro do panorama de impostos altos, mal cobrados e pior direcionados. Porém, algum passo deve ser dado e ele deve partir do governo.

E CHEGA DE MEDIDAS PONTUAIS! Cortar impostos da cesta básica só mascara a ineficácia do sistema tributário e mais uma vez, algo que deveria ocorrer por medidas econômicas sãs (a queda da inflação), tende a ocorrer na canetada, ou seja, não é real, é engodo.

Quanto aos sinais do BC. Sim, ele quer subir juros na falta de opção melhor e deve fazê-lo seguindo de perto as perspectivas do mercado, principalmente do DI. Se for assim, é possível que passamos este primeiro semestre incólumes, porém com juros mais altos a partir de agosto.

E um bom dia a todos!