O discurso de Bernanke ontem se focou mais responder questões menores do que o de anteontem, porém foi o suficiente para reforçar aos investidores a visão de que o comitê de política monetária segue firme em suas convicções e ações.

Além disso, Bernanke deixou mais uma vez claro que só sobe juros quando a economia puder comportar um novo aperto, ou seja, com desemprego ao menos abaixo dos 6% e segundo o chairman, só deve ocorrer em 3 anos. Deste modo, as especulações com o fim do QE3 perdem cada vez mais força.

O índice Dow Jones busca sua alta histórica hoje com o resultado do PIB americano, ao qual todos devem ficar atentos ao resultado e também às revisões anteriores, talvez mais importantes neste momento.

Bernanke está com tudo. Apesar do terrorismo dos investidores com a última ata, Ben tem os indicadores econômicos ao seu lado e assim, seu discurso só vem a somar ao cenário como um todo e reforça a principal premissa do fim ou da redução do QE3: a economia se sustenta sem ele.

E o mercado local? Consegue acompanhar este bom humor, mesmo com o resultado trimestral negativo da Vale, primeiro desde 2002? Já cansei de falar aqui e em outros lugares que o problema do Brasil não é só do poder público, mas também da iniciativa privada.

Estes problemas aqui são como uma saia longa em uma mulher bonita. Primeiro eram os juros, hoje em níveis historicamente baixos e a economia local não reagiu. Cortamos um pedaço da saia.

Depois foi o câmbio, o qual permaneceu acima de R$2 contra o dólar e mesmo assim, a economia local não se beneficiou. Cortamos mais um pedaço da saia. Benefícios tributários localizados, vai-se mais um pedaço e a coisa encurta. Sobram os impostos, custos trabalhistas e logísticos.

Num cenário positivo, a saia ficaria “curta o suficiente” para a moça ficar ainda mais atraente, ou seja, a economia se aqueceria e atrairia os estrangeiros. Porém, vamos nessa toada até “aparecer a bunda” e isso será a produtividade local. Veremos que produzimos mal, com qualidade discutível e sem competitividade internacional.

Talvez por isso, muitos queiram a tal reforma tributária pela frente, mas nos bastidores morrem de medo dela, como pessoalmente presenciei. No geral, a lucratividade no Brasil é uma das maiores do mundo e culpa-se em muito o custo de capital.

Porém, alguns estudos já mostram que mesmo sem todos os entraves, a situação aqui não seria muito mais competitiva e uma mudança no setor privado seria tão necessária como a que talvez ocorresse no público.

Agora temos uma pequena parcela da explicação do porquê do desempenho do PIB brasileiro no ano passado, o qual em média não deve chegar aos 2%, muito abaixo da média dos emergentes e pior, abaixo de muitas economias industrializadas.

Mas aproveitemos este momento de mercado, pois apesar do bom desempenho da economia americana, da eloquência de Tio Ben e das projeções de crescimento, ainda temos algumas rochas no caminho como a forte recessão espanhola, o sequester que deve ocorrer amanhã, caso nada seja feito e os problemas da bolha imobiliária chinesa.

Tudo isso sem querer por sal no café de ninguém. Um bom dia.