O Brasil está no topo. Essa poderia ser uma boa notícia, se este assim chamado “topo” não fosse por uma série de dados que demonstram o mau estado da economia brasileira hoje.

Vamos levantar algumas questões importantes que incomodam na pretensa recuperação da economia brasileira nos dias de hoje e o que está no topo efetivamente.

TAXAS DE JUROS

Entre 40 economias relevantes do mundo, nós somos o mais rentável pagador de taxas de juros reais. No entanto, isso não significa necessariamente que atraiamos o dinheiro dos investidores globais. Riscos políticos e regulatórios são uma questão constante e o fluxo cambial demonstra que os dólares estão sendo retirados diariamente do Brasil, o que nos leva ao próximo “tóp”ico.

CÂMBIO

O Real é a moeda mais desvalorizada entre os 15 países importantes, caindo 21,32% nos últimos seis meses, quase o dobro do segundo lugar, o Rand Sul Africano com 11,72% e o dólar da Nova Zelândia, com 11,42% com a medalha de bronze.

Nem mesmo as mais altas taxas de juros reais compensam a perda em moeda local, quando comparado com a gama de opções que os investidores globais têm disponíveis hoje. Mais uma vez, pesam a política, com a falta de empenho do Congresso para aprovar medidas impopulares do ajuste fiscal, bem como uma série de índices macroeconômicos que mostram uma atividade econômica em declínio e deterioração das condições de mercado.

A desvalorização da moeda é tão forte que nem mesmo o aperto monetário teve qualquer ou nenhum efeito para, pelo menos, minimizar a queda do real frente ao dólar. No ponto de vista do investidor estrangeiro, é difícil confiar em um lugar onde os locais assim não o fazem.

Isso nos leva ao próximo “tóp”ico, os CDS.

CREDIT DEFAULT SWAP (CDS)

Os Credit Default Swap (CDS), também conhecido como o seguro contra calote, tem uma forte correlação com o dólar. No entanto, mesmo contra seus pares, os CDS brasileiros têm, provavelmente, a mais forte e intrínseca correlação entre todas as moedas.

Vamos ser justos, não possuímos a medalha de ouro para o “pódio global”, mas a temos entre os portadores de grau de investimento das três grandes agências (Moody, a Fitch, S&P). Ou seja, custamos tanto quanto um junk bond.

Para cada US$ 1 milhão investido no Brasil, o investidor precisa de outros US$ 30.000 por ano apenas para o seguro.

PRODUTIVIDADE

A obsessão pela desvalorização da moeda, de modo a melhorar o comércio internacional, por vezes, não é tão eficaz como a teoria diz. Em termos de produtividade, nunca alcançamos pódios dignos.

Como exportador de commodities, o Brasil teria em tese muito a ganhar quando o Real se desvaloriza. Indústrias como a de carne, papel entre outras com custos intensivos em Reais estão mais do que felizes por exportar para países bem-sucedidos na América do Norte, Europa e Ásia.

A demanda está crescendo e várias empresas nada têm a reclamar sobre os mercados internacionais. No entanto, em nível local, a situação é muito diferente.

O Brasil não é exatamente capitalista; é uma economia de “intervenção estatal” “quase fechada”. Capitalismo aqui depende muito do governo para funcionar e uma parcela significativa da indústria local depende regularmente de importações de bens (básicos e intermediários) para produzir. A conhecida proteção que o governo tenta dar à indústria local (principalmente com tributação das importações e limitando os acordos comerciais) tem na verdade gerado uma baixa produtividade e aumentado os custos para manter uma empresa.

Por exemplo, a indústria de eletrônicos. O Custo Brasil torna praticamente impossível produzir qualquer dispositivo eletrônico a partir do zero (a partir dos componentes básicos até o produto final). Ok, todos nós sabemos que a China, Coreia do Sul e Japão dominam este cenário, mas os custos para produzir produtos eletrônicos em outros países não são tão elevados como aqui por causa de impostos, os custos gerais e burocracia.

Mesmo assim, o Brasil possui algumas fábricas de eletrônicos que são, na realidade, meros montadoras disfarçadas a fim de evitar uma série de impostos. A mesma tática é utilizada por toda uma série de setores que não produzem muito e dependem das mesmas importações que o governo tenta tão fortemente conter.

Outro exemplo ocorreu no Brasil durante os anos 80, com a reserva de mercado de computadores de 1984, uma tentativa de promover uma incipiente indústria local e protegê-la contra a nova onda estrangeira. Não só a indústria local não deslanchou, como também aumentaram consideravelmente os custos de setores que estavam começando a usar computadores como uma ferramenta de produtividade.

Tornou-se lugar comum o contrabando de computadores e peças. Empresas legalmente estabelecidas no Brasil, como bancos e indústrias eram as principais clientes dos contrabandistas. A reserva de mercado criou uma pequena indústria local, sem concorrentes (e qualidade), então era muito mais barato e com melhor qualidade trazer computadores do Paraguai do que usar aqueles criados e vendidos aqui.

Muito mudou desde então, mas a “proteção” permanece como um “lema” estatal e o resultado deste conceito mascara os fortes ganhos de diversos setores, transferindo os custos para os consumidores e tornando o Brasil um lugar muito caro para as pessoas que nele vivem.

Isso nos leva ao último “tóp”ico.

INFLAÇÃO

O Brasil tem a terceira maior inflação dos países do G20 e da América Latina e do seu peso, que aparentava estar mitigado devido a criação do Real em 1996, parece retornar fortemente.

Como ministro Levy diz, “Não é possível discutir o crescimento, sem discutir o ajuste fiscal”. O Estado brasileiro é grande, pesado e ineficiente. Grande não em um bom sentido, pois se a folha de pagamento do governo fosse repleta de professores, catedráticos, médicos, pesquisadores, policiais, militares isso seria um inchaço perfeito.

Mas não, o estado brasileiro aloca ineficientemente os recursos entre suas entidades, tem uma distribuição de renda injusta entre os estados e mantém uma grande e lenta “máquina” burocrática que para se sustentar, exige uma cobrança de impostos cada vez maior e, consequentemente, uma enorme carga tributária.

A burocracia brasileira até mesmo um nome: “Custo Brasil” e afeta empresas desde o início, até o seu fim. Demora muito tempo e dinheiro para abrir uma empresa, ainda mais para fechar; impostos diretos ultrapassam 25 por cento das margens brutas da maioria das empresas; os impostos e as leis trabalhistas fazem um empregado custar tanto quanto o salário a ele pago; municípios criam tantos regulamentos para abrir um negócio que a maioria deles permanece funcionando ilegalmente até que a papelada adequada e autorizações estejam prontas, o que pode levar um ou dois anos. Esta é apenas uma pequena parte do problema, uma vez que não há absolutamente nenhum incentivo ao empreendedorismo.

Tudo nos leva de volta ao início deste tópico: Inflação.

Como é difícil e muito caro produzir-se aqui, a manufatura de bens é em grande parte a montagem de material importado, portanto qualquer alta do dólar é muito rapidamente traduzida em inflação.

Isso também nos leva de volta para o primeiro tópico: altas taxas de juros.

Bem como a reforma fiscal (não somente ajuste), o Brasil necessita urgentemente de uma reforma de produtividade. Ele incluiria uma reforma tributária em grande escala, a retirada de etapas para se abrir, operar e fechar uma empresa, a legalização completa das práticas de terceirização e acordos comerciais internacionais, apenas para começar.

Sem ao menos parte dessas mudanças, o Brasil tem muito pouco espaço e ferramentas para lidar com adversidades econômicas, tornando a política monetária o principal e mais importante instrumento para o governo.

No entanto, quando o âmago da produção é baseado em dólar, não é tarefa fácil deter uma escalada de preços com o aperto monetário sem antes contrair o conjunto completo da economia. Traduzindo: somente desemprego e contração econômica faz o trabalho nessa situação.

Para isso, taxas de juros constantemente em alta.

CONCLUSÃO

Neste momento, uma mudança concreta passa por um processo de difícil coalizão política ou mesmo um sentimento mais generalizado de que o cenário se aproxima do “fundo do poço”, sendo necessárias as devidas aprovações congressuais para que a país volte a avançar.

Além disso, o Brasil tem de lidar com a forte desvalorização artificial Yuan e as consequências generalizadas das ações da China no futuro de curto prazo, além com o rebaixamento do país pela agência de classificação de risco Moody`s (de BAA2 para BAA3 com perspectiva estável).

Portanto, esta é a situação atual no Brasil. Ela demanda um compromisso urgente de mudanças que, em termos de política, não são viáveis ​​no curto e médio prazo e até mesmo se os planos de Levy são forem bem-sucedidos, sem essas alterações ou pelo menos parte delas, o Brasil será sempre à beira de crescimento e de inflação intrinsecamente associados.

O país do futuro continuará a ser do futuro.