Em Continuidade do artigo “China. O Dragão pode entrar em “stall”??” do dia 8 de Abril de 2013 

 

Sobre o mercado imobiliário: o governo há algum tempo atrás anunciou um imposto de 20% sobre o 2º imóvel familiar e houve, ou ainda há, uma data limite para que se inscrevessem imóveis à venda a partir da qual o imposto incidiria.

 Multidões foram aos órgãos competentes e imobiliárias para registrar a oferta de venda de seu 2º imóvel. Ainda houve mais um fator: os divórcios dispararam na China, pois algum infeliz espalhou o boato de que casais separados estariam isentos do maldito imposto. Na dúvida, a solução do divórcio foi abraçada. Nos textos citados para leitura há vários dados e indicadores, e ótimas análises. Peço que leiam, pois vou me limitar às questões que me intrigaram.

 Como o governo vai manobrar de fato esta transição e administrar os efeitos colaterais? Não parece haver muito espaço e margem para movimentos que não causem contra-efeitos potencialmente mais nocivos que o remédio. Há quem julgue que frente a riscos desagradáveis e deletérios o governo possa agir como o Japão na década de 90, ou seja, fingir que não houve produção flatulenta dentro da missa e seguir com o modelo por mais tempo; e há aqueles que argumentam que por ter um PIB per capita é muito baixo e permite o desequilíbrio por anos à frente até que este alcance ou diminua o gap ao investimento realizado.

Como fica o consumo frente a um fator psicológico como a freada dos imóveis? O mercado de lá parece-me ser uma bolha. Bolha furada explode ou murcha??

Como ficam as commodities? A resposta parece óbvia. Quem vem antes, o aumento do consumo ou a desaceleração e seus efeitos? O câmbio desempenhará que papel?? Será que enfim a moeda será valorizada?

 Esta administração parece-me, como leigo, difícil de ser realizada sem grandes contratempos – confusão e turbulência, na verdade.

 Agora, me pergunto por que houve um “bom humor” nos mercados quando a China anunciou os 7,5% de meta para 2013, pois o número foi tratado como “piso”quando, na verdade, está mais para “teto”. Porque o amigo compra commodities ou algo do setor se os imóveis por lá parecem estar na corda bamba?? Você espera, realmente vender mais produtos para eles que não seja comida??

 Por exemplo: a Comissão Nacional de Desenvolvimento & Reforma da China (NDRC) divulgou suas previsões para a demanda doméstica, produção e importação de minério de ferro. Em 2012 houve um novo recorde de consumo -743MM de toneladas e em 2013 haverá um aumento de 20% no consumo. Porém, eles prevêem um aumento de 100MM de toneladas na produção do produto primário e mais 300MM de oferta para os próximos 2 anos.

 Ou seja, apesar de tudo, temos um desequilíbrio projetado (grande) entre oferta e demanda. Ops, parece que temos um problema claro por aí, pois os dados são chineses e podem já estar indicando o que nos aguarda pela frente no caso “otimista”. Mais uma coisa, e uma pergunta: não tivemos uma crise nos preços do minério relevante no ano passado? Lembram-se do minério abaixo de U$ 90/ton?? E agora como fica isto frente ao problema imobiliário e aos divórcios?

 Para os atentos observadores as commodities andaram escorregando um pouco durante o mês de março. Alguém parece estar saindo na frente apesar dos novos highs de NY.  Eu, realmente, admiro os traders de commodities, pois são mais bem informados, tem uma visão da economia real que os traders financeiros não têm, compreendem de produção, logística, câmbio & juros, atacado e varejo.

 Saindo um pouco da China e vindo para a terra do futebol, porque o nosso BC não fala de verdade com estes caras de cmdtys?? Iria poupar-lhe várias surpresas,  muito trabalho  e seria um aprendizado enorme. Será que além de sermos o país onde todos são técnicos de futebol também somos aquele em que todo trader, economista ou autoridade monetária também é um entendedor de commodities? Afinal, não somos um país produtor de commodities? Então porque as consideramos tão pouco?

 Realmente os mercados e a economia estão cada vez mais para psicólogos do que para matemáticos, e muito pouco para a arrogância e vaidade.

Voltando a Pequim, o que vocês acham: a China vai por o quadrado dentro da bola?

Não se esqueçam de que foi o Wen Jiabao quem disse: …“ o desenvolvimento desequilibrado, descoordenado e insustentável continua a ser um problema proeminente”. Ninguém poderá alegar que não foi avisado e deve lembrar-se que em 2006 o FED não via problema nenhum no mercado americano…

 Mais uma vez, leiam os textos citados acima, cada um terá sua própria interpretação, e o debate estará enriquecido.

 Antes que eu me esqueça, segue o link para o texto sobre minério de ferro:

 “The Future of Iron Ore” – Commodity Market Intel – no site Seeking Alpha