A forte exposição dos bancos cipriotas à dívida grega mostrou sua pior faceta na semana passada. O Chipre é um país de um pouco mais de um milhão de habitantes, numa cultura dividida entre a Grécia e a Turquia, um pouco mais de nove mil de km2 e PIB de US$ 24 bi.
Coloco essas informações geo/demográficas para mostrar que um país um pouco maior que Campinas gera toda essa agitação, com citações como “a retomada da Crise do Euro” ou “Nova Crise do Euro”.
A situação lembra o artigo que escrevi recentemente, “Mercado e o pêlo no ovo” e isso deverá ser o motivo mais do que ideal para que haja uma realização de lucros consistente, principalmente ao observarmos a agenda econômica limitada.
Todavia, é motivo para tanto? Eu diria que não, pois mais uma vez, a necessidade de correção dos ativos demanda um motivo que demorou para ocorrer.
A exposição do sistema bancário cipriota à Grécia, principalmente após a renegociação entre os credores colocou o país com uma necessidade de recursos de US$ 17 bi, ou seja, muito próximo do PIB anual. Foram liberados US$ 10 bi, mesmo assim o país precisa se adequar às questões fiscais.
Muitos acusam o país, um paraíso fiscal, de lavagem de dinheiro e a opinião pública de diversos países, principalmente da Alemanha não é a das mais favoráveis neste momento.
Para tanto, o governo propôs uma taxação das contas bancárias de 6,7% até € 100 mil e de 9,9% acima deste valor. Basta dizer o nível de desaprovação popular e de oposição do congresso e é exatamente o adiamento da votação da taxa que tem gerado o estresse que deve definir o rumo dos investimentos nesta semana.
O desvio de foco, porém, não diminui a importância de eventos como a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), onde o Federal Reserve pode dar novas dicas se já é realmente o momento para a retirada ou redução dos estímulos monetários.
A ata é obviamente muito mais importante que o comunicado da decisão, a qual certamente será de manutenção, porém a atenção dos investidores é grande, pois num momento de realização de lucros, qualquer sinal ganha proporções imensas.
Outro fator que pode passar despercebido é o estímulo de 10 bilhões de libras em infra estrutura do governo britânico, num sinal muito semelhante àquele emitido pelos EUA, de que o momento atual é de aquecer a economia e não controlar os gastos.
E lá vamos nós para mais uma semana daquelas. Tudo, menos calma!
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Edson Mineiro
11 anos agoChipre demonstra duas questões, uma pragmática e comportamental – pelo menos para nós, brasileiros e hermanos, calejados com “canetas ministeriais”, confiscos de ativos, bois no pasto e currais -, e outra, que é um sinal já dado há quase dois meses e que passou em branco a todos os embriagados com Draghi, Bernanke, e BOJ – um holandês maluco chamado Jeroen Dijsselbloem(ministro das finanças holândes, e novo “Head” do Eurogroup, o equivalente a chefe dos grupo de ministros das finanças do eurogrupo).
Vamos começar com o holandês. Ele é o “pai” do confisco cipriota e, pelo jeito, vai fazer os alemães do Bundesbank parecerem-se “lenientes e simpáticos” como Bernanke e Draghi. O Sr. Jeroen Dijsselbloem (guardem este nome), em 1º de fevereiro passado saiu em socorro ao banco SNS Reaal, que estava em apuros por conta de algo ruim em seu balanço, mas conhecido de todos – hipotecas. Pois bem, Jeroen, deu um “haircut” em todos os credores do banco e, em especial, nos detentores de “high yield bonds”. No caso dos chamados “Jr bonds” ele mandou logo 100% de corte. Sua lógica: porque salvar os credores de uma instituição que está em colapso e ainda cobram juros altos?? Ele acredita que “TODOS” tem que pagar e não somente o governo (leia-se em política: o contribuinte).
Pois bem, foi este senhor que determinou a cobrança das taxas sobre os depósitos cipriotas. Cuidado com ele, porque se ele não for “amansado politicamente”, e se ganhar apoio dos alemães, imagina o que podemos esperar quanto aos próximos resgates…..
Daqui a pouco vai ter republicano querendo lançá-lo a guru econômico do partido e importá-lo a Washington.
Muito bem, vendo toda a confusão armada sobra-nos a questão: porque um grego, italiano, espanhol, português, ou irlandês (talvez até os franceses, no exagero) deveria deixar seus “EUROS” depositados em bancos nos seus países?? Quem garante seu dinheiro? Todos sabem que contra uma caneta não há defesa : curralito, plano Collor, Chipre, bonds gregos, etc. Isto acontece mesmo para aqueles que se anteciparam na véspera, pois há casos de governos que criaram “impostos retroativos” (até nos US durante a década de 30).
Se vc fosse um europeu da periferia, o que vc faria com seu euro???
Isto pode ser a ponta do iceberg ou só um pedaço de gelo inconveniente??
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