Passamos recentemente por uma época crítica para quem trabalha em bancos de investimento.  Conhecida em inglês como bonus season, esta época é motivo de tensão, expectativas altas, profissionais hospitalizados e muitas, muitas mudanças de emprego.

Desde que se começa a trabalhar em bancos, a remuneração variável é tida como fator vital na remuneração anual do indivíduo.  Mesmo nos cargos mais baixos da estrutura, tudo gira em torno do bônus, das avaliações diretas, resultados mensuráveis ou não, projetos entregues, etc…  Pouca gente pensa em outra coisa.

Existe porém um fato que incomoda, e muito, todos que trabalham em áreas de suporte nestas instituições:  o fato de que, para iguais níveis de hierarquia, o bônus é geralmente 80% menor em uma área de suporte do que a de uma área de negócios.  O discurso é sempre o mesmo:  “prática de mercado”, “é o front office que gera as receitas”, “o risco é maior para eles”, etc.

Porém, nos últimos anos (desde a crise de 2008 principalmente), o foco nos profissionais de controle e processamento tem sido muito maior, assim como a responsabilidade por eventuais problemas.  As obrigações, responsabilidades internas e regulatórias de quem trabalha em controladoria, quem liquida operações, controla crédito ou risco, tem sido dissecadas e atreladas aos resultados das instituições.

Isso sem mencionar que, sem o back office (e digo isso em em geral, incluindo todas as áreas de suporte), os bancos NÃO funcionariam.  É o conjunto da estrutura (front back) que faz de uma instituição uma máquina completa e funcional.

Já passou da hora da remuneração de profissionais destas áreas estarem melhor alinhadas com os resultados das áreas que atendem, e atreladas aos riscos pelas quais respondem.  Os pools de bônus precisam estar melhor divididos, de forma mais justa e que remunere o profissional de controle pelas obrigações que ele assume.

Beira o absurdo que um profissional com 20 anos de controladoria, em cargo de diretoria, ganhe anualmente a mesma coisa (ou, as vezes, até menos) que um analista de M&A ou um trader com 2 ou 3 anos de casa.  Se as exigências aumentam, se o risco pessoal, regulatório e de empregabilidade está implícito no cargo e se a carga de trabalho é igual, é natural que o que se paga por isso esteja atrelado e condizente.

Não existe time sem defesa, por melhor que seja o ataque.  Não se ganha uma Copa do Mundo pensando só nos jogadores da frente, sem treinar os zagueiros e o goleiro. Front Office sem Back Office é acreditar que nenhum piloto necessita da torre de comando.

Este, por sinal, é um dos principais motivos pelo qual instituições perdem bons profissionais.