O acordo de Bretton Woods

Em julho de 1944, 45 países se reuniram na cidade de Bretton Woods, New Hampshire, no nordeste dos Estados Unidos para estabelecer os rumos da economia mundial no que já se imaginava o pós-guerra, com a Alemanha sucumbindo à pressão militar dos países aliados.

Neste acordo, então, foi criado o Fundo Monetário Internacional, o famoso FMI numa estrutura que embarcasse as premissas citadas agora a pouco e em teoria de forma a evitar uma repetição das políticas econômicas desastrosas que haviam contribuído para a Grande Depressão.

Assim, como o acordo claramente colocava os EUA na vanguarda deste sistema de cooperação monetária, diversos países, entre eles a URSS se recusaram a assina-lo e não fizeram parte do primeiro grupo que passou a existir formalmente em dezembro de 1945, com agora 29 países membros aderindo ao Convênio Constitutivo, o qual se tornou efetivo em 1º de março de 1947.

O número de membros afiliados ao acordo e, portanto, ao FMI começou a se expandir no final da década de 1950. E, durante os anos 1960, em especial após a independência de diversos países africanos de suas antigas colônias, a expansão também continuou.

Os países alinhados à URSS eram bastante raros na adesão, obviamente.

Sistema de valor nominal

Um dos motivos de crítica de diversos países era a posição privilegiada dos EUA no acordo. Posição propiciada dado o seu papel na derrota do nazismo e na vitória durante a 2º Guerra.

Entre as premissas do acordo, estavam:

  • Criação do padrão-ouro, um lastro onde cada dólar seria equivalente a 35 gramas de ouro;
  • Para tanto, a moeda padrão para o comércio internacional seria o dólar americano;
  • Com isso, a indexação do dólar americano como referencial deveria obedecer um limite de bandas cambiais de no máximo 1%;
  • Criação em 1961 do London Gold Pool, agrupamento de reservas de ouro por um grupo de oito bancos centrais nos Estados Unidos e sete países europeus;
  • BIRD (Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento) e o Banco Mundial, todos com sedes estabelecidas em solo americano.

Os países membros concordaram em manter suas taxas de câmbio – o valor de suas moedas em dólar e, no caso dos Estados Unidos, o valor do dólar em ouro – atreladas a alíquotas que só poderiam ser reajustadas para corrigir um “desequilíbrio fundamental” no balanço de pagamentos, e somente com a anuência do FMI.

Então nasceu o sistema Bretton-Woods – um sistema de valor nominal e referência de câmbio que prevaleceu até 1971.

O início do fim

Por volta de 1968, a tentativa de defender o dólar em um preço fixo de US$ 35 a onça se tornava cada vez mais insustentável. Circunstância esta causada especialmente dadas a políticas de gastos elevados dos governos Eisenhower, Kennedy e Johnson.

Sendo assim, o forte fluxo de saída de ouro dos Estados Unidos se acelerou. Na época, o governo também tinha garantias da Alemanha e de outras nações, e preservou suas reservas de minério. Contudo, os gastos desequilibrados do governo Lyndon Johnson transformaram a escassez de dólares das décadas de 40 e 50 em excesso na década seguinte. O que ficou conhecido como Dollar Glut.

Um dos problemas criados na década de 1960 era que diversos países compravam ouro com indexação da paridade de Bretton Woods e lucravam ao vender a preços maiores no mercado aberto, levando em 1967 a restrições de operações de paridade de dólar com direitos especiais de saques, somente possível entre bancos e o FMI.

A combinação de gastos excessivos do governo Johnson com o programa Great Society, gastos com a guerra do Vietnã, o Dollar Glut, balanço de pagamentos negativos e uma inflação monetária programada pelo Federal Reserve levaram à supervalorização do dólar, acelerada pela queda fortemente abrupta das reservas americanas de ouro.

Em resumo, déficits gêmeos, com os gastos fiscais gigantescos dos EUA e déficits comerciais constantes levaram descrença aos detentores de dólares globais de que os EUA fariam em algum momento ajustes necessários para reverter tais problemas. Portanto, isso levou primeiramente ao colapso do London Gold Pool em 1968 e a queda da cobertura de ouro dos EUA de 55% para 22%.

A resposta foi a piora do Dollar Glut, com emissões cada vez mais constantes de moeda pelos EUA para cobrir seus gastos, com a óbvia e consequente inflação.

O fim definitivo do sistema de Bretton Woods

Em 71, mais e mais dólares eram impressos em Washington e injetados no exterior, com os gastos do governo nos programas militares e sociais.

Nos primeiros seis meses de 1971, ativos na ordem de US$ 22 bilhões fugiram dos Estados Unidos.

Em resposta, em 15 de agosto de 1971, Nixon emitiu a Ordem Executiva 11.615 com a Lei de Estabilização Econômica de 1970, impondo unilateralmente controles de preços e salários de 90 dias, uma sobretaxa de 10% de importação e, mais importante, “fechou a janela do ouro”, tornando o dólar inconversível em ouro diretamente, exceto no mercado aberto, anunciada como uma suspensão “temporária”.

Esta decisão foi tomada sem consultar membros do sistema monetário internacional ou mesmo seu próprio Departamento de Estado e logo foi apelidada de Choque de Nixon, ou o que hoje conhecemos como o fim do Sistema Bretton Woods.

O processo de dissolução do sistema durou mais dois anos, até 1973. E, em março daquele ano, as principais moedas começaram a flutuar umas contra as outras.

Membros do FMI estavam então livres para escolher qualquer forma de acordo de câmbio que desejassem (exceto o padrão ouro). Permitiu-se que a moeda flutuasse livremente. Assim, ela poderia ser atrelada a outra moeda ou uma cesta de moedas; adotar a moeda de outro país; participar de um bloco monetário ou fazer parte de uma união monetária.

Consequências

Na verdade, o fim do padrão ouro, ou seja, o sistema Bretton-Woods se tornou oportuno em pouco tempo, pois o choque do petróleo no início dos anos 1970 traria problemas graves aos países se não estivessem operando sob taxas de câmbio flutuantes.

Com a mudança, foi possível aos países se adequarem ao preço mais elevado do petróleo, a partir do choque de outubro de 1973, aliviando bastante os choques externos do evento.

Outro ponto foi o papel do FMI na cessão de crédito soberano a diversos países de forma a aliviar parte dos impactos então impostos pelo problema da commodity e de outra série de problemas econômicos globais que se avolumariam na década de 1980, em especial, as hiperinflações, como a Brasileira.

Questionamentos sobre os choques de preços causados pela emissão de papel moeda não foram exclusivos do século XX. Casos como da Companhia do Mississipi em 1720 e de Jiaozi no século XI na China também foram marcantes para o tema. Assim, vem à tona a discussão sobre a importância do lastro, para determinar a validade de uma política pública, notadamente a monetária, e como isso pode influenciar tanto a inflação, como o referencial do valor da moeda.

Eis que entra a moeda fiduciária, ou fiat currency, que vem do termo em latim que significa “que assim seja” ou “aquilo que é de fé pública”, sendo este último ponto de grande importância.

Quer dizer que o dinheiro agora depende da fé pública para que seu valor seja reconhecido, pois ele deixa de ser uma “promissória”, que promete o pagamento do valor de face em espécie metálica.

Conclusão

Com isso, o papel do governo em manter a fé pública é o que em enorme parte das vezes define a estabilidade da moeda.

Ou seja, um governo que muito gasta e não reduz seus custos é visto como aquele que pode não ser confiável. Confiança esperada no cumprimento de suas obrigações (ex: pagamentos de títulos da dívida pública), e assim pode recorrer a expedientes perdulários para continuar a funcionar.

Entre os expedientes que podem recorrer estariam a emissão em grande escala de moeda, elevação de juros e também, a elevação de impostos.

Com a perda da fé pública, perde-se a confiança no valor da moeda. E, o primeiro efeito primário disso seria a inflação, ou seja, a moeda perde valor em relação ao conjunto de preços totais da economia.

Outro ponto da emissão excessiva de moeda é a igualmente a relação dela com o conjunto da economia. Afinal, a moeda em si não é somente um meio de relações de troca, mas possui também valor intrínseco. E tal valor pode ser modificado por alterações de oferta e demanda.

Resumindo, muita moeda em circulação, ela vale menos e é necessário sempre mais dela para se comprar a mesma coisa: inflação.

Na ponta contrária, pouca moeda em circulação, ela se valoriza, ao mesmo tempo dificulta o consumo e pode gerar menor pressão de preços, ou mesmo, contração econômica.

Por fim, a grande questão em torno da moeda fiduciária é que pela ausência de lastro físico, ela depende da confiança depositada nos governos em cumprirem suas obrigações e manterem o seu valor, além da expectativa em serem criteriosos e ponderados no processo de emissão ou retirada de circulação.

É uma relação de fé.

“All money is a matter of belief”. – Adam Smith