Imagine o seguinte:  você arranja um emprego.  Você produz.  Você recebe seu salário. Você gasta seu salário com suas necessidades alimentícias, familiares, de saúde, educação, etc., e guarda um pedaço para comprar aquela TV de Plasma que vai ficar bacana na sala.  A Copa está aí, tem que ter TV grande.  Quando o dinheiro dá, você compra a TV. Paga à vista, pois não quer fazer divida.  Este é o brasileiro dos anos 80 e 90.

Agora imagine: você arranja um emprego.  Você produz.  Você recebe seu salário, e então é elegível (pois tem renda) a comprar a prazo no Magazine Bahia. Então você vê o que sobra após todos os seus gastos, e este valor é a soma das parcelas que você pode pagar mensalmente.  Então você vai lá no Magazine Bahia e compra uma TV de Plasma, um Home Theater e um sofá novo.  Afinal, o Galvão tem uma voz linda. Este é o brasileiro pós ano 2000.

Então… você tem emprego, você comprou a crédito, a produção aumentou, o seu vizinho arranjou emprego, comprou, contratou empregada, ela comprou, a fabrica produziu mais, o funcionário fez um financiamento de 60 meses num Celta 1.0 novinho… tudo está indo bem. Aquele imóvel lindo na planta você está pagando a perder de vista, vai usar o FGTS lá no fim e financiar o que faltar.  Mas como imóvel dobra de preço a cada 5 anos, ta sussa… vamos nessa que a hora é agora!  A CVC vende viagens em 12x sem juros para fazer compras em Miami, e mais um boletinho mensal não vai fazer tanta diferença.

Quem paga essa conta?  Obviamente, tem mais dinheiro no sistema do que o salário que todo mundo ganha.  O dinheiro vem de algum lugar, certo? E, mais importante ainda: o que acontece quando a música para?  Quando o dinheiro der uma “secada”, o banco subir a taxa e o cartão de crédito estourar?  Veja bem, não estamos falando aqui só de bens duráveis… carros e automóveis são a garantia do empréstimo sim.  Mas estamos falando de financiar serviços e bens descartáveis, coisas que duram 5 ou 10 anos.  3 celulares por cabeça? É só entrar em qualquer linha de ônibus hoje e você vê !

Quando a música parar, o crédito secar e as vendas diminuírem, a fábrica para.  A construção para. O primeiro sinal serão as “férias coletivas”, tentando ganhar tempo e limpar os estoques.  Depois, vem as demissões de ajuste.  Lembre que neste caso os juros já subiram, a inflação está caindo pois ninguém compra nada (demanda baixa) e o ciclo começa a azedar.

O segundo passo é um aumento da inadimplência.  Afinal, se você está sem grana pois foi demitido, o boleto do Magazine Luisa vai pro lixo e você compra arroz e feijão, certo?  Ainda bem que eles estarão mais baratos, pois o preço das commodities foi pro chão.  Só se compra o necessário.

Nesse ponto o governo sai correndo atrás do rabo… tentando estimular a economia, criando pacotes e bolsas, baixando tarifas pontualmente (pois ele gasta demais e se cortar de vez os impostos, o país quebra) e… humm… peraí… isso JÁ ESTÁ ACONTECENDO !!!

Entendeu ou quer que desenhe?