Eis que surge o novo cenário: a retirada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos investimentos em renda fixa por investidores não residentes, também conhecidos como estrangeiros, ou no jargão de mercado, o Gringo.

Em um pequeno histórico, já citei como foi efetuada no passado a taxação dos investimentos em renda fixa, no artigo “Um Tombini na Mantega”, seus principais efeitos e como esse IOF era uma aberração da natureza. Para entendermos um pouco o que ocorre no Brasil neste momento, vamos fazer uma pequena regressão dos fatos.

Em 2010, os elevados juros no Brasil atraiam um grande fluxo de investimentos ao país e o cenário pós-crise realmente aparentava aqui uma “marolinha”, com as exportações correndo de “vento em popa”  e resultando em grande fluxo de dólares pela via comercial.

O globo passava por diversas “guerras cambiais” e os juros reais por aqui mantinham o cenário bastante atraente.  Todavia,  a elevação do IOF não teve o efeito desejado, pois o dólar atingiu R$ 1,555 algum tempo depois e o principal efeito foi a saída dos investidores estrangeiros. E de onde continuava a vir o “doleta”?? “Boa parte via comercial, imbecil!”

Porém isso não ocorreu pela taxação em si, mas pela elevação do risco regulatório. Os investidores estrangeiros se incomodaram bastante com a constante alteração de regras e em 2011, o país começou a deixar de ser um alvo dos recursos internacionais. A capa da “The Economist” em 2009 com o Cristo decolando não “decolou”.

O resultado foi claro. A redução de liquidez no mercado financeiro continua a ser sentida até agora e mesmo a retirada do imposto não terá capacidade de atrair fortemente os estrangeiros para cá. Numa conversa com investidores americanos, um deles citou com muita propriedade: “I won´t fall for that again”, ou seja, “eu não caio nessa de novo”.

Liquidez internacional elevada; EUA com sinais de recuperação macroeconômica; bolsas internacionais em altas mais do que consistentes; dólar em ascendência. Como num cenário destes um estrangeiro se arriscaria a apostar em reais?

Só o risco cambial e regulatório já afastariam estes recursos e parte dos estrangeiros aproveita a mudança para desfazer posições em renda fixa. Para completar o cenário, o governo brasileiro manteve a taxação em operações vendidas em dólar para os bancos, ou seja, mesmo que queira, a tendência do dólar continua de alta.

Edson Mineiro antecipou aqui no artigo “China. O Dragão pode entrar em “stall”??” 1,2 os efeitos da contração chinesa e se observamos pelo ponto de vista macroeconômico, o atual cenário cambial não passa de um rearranjo de forças, um novo equilíbrio de um cenário de menor crescimento chinês vis-à-vis um maior crescimento americano.

Quando disse no passado que talvez a geração do meu filho ainda não visse a China dominar o mundo eu colocava isso em pauta, pois as estruturas de crescimento americano, baseadas em inovação tecnológica e empreendedorismo simplesmente são mais sólidas que as europeias, que se perpetuam num excessivo e pesado estado de welfare e que as chinesas, que podem sofrer um abalo num futuro relativamente próximo devido à ascensão e maior educação de uma nova classe média, a qual tende a questionar o atual modelo político.

A China ainda não conseguiu se consolidar como um estado de consumo, apesar do alto nível de investimento, numa linha diametralmente oposta à brasileira, com consumo elevado e baixo investimento e isso faz com que a China dependa fortemente do consumo internacional e no atual momento, somente os EUA “não fazem verão”.

Isso tudo eu coloco para reforçar que não adianta AGORA, depois de dilapidar o mercado financeiro, querer mudar as regras e tentar atrair o estrangeiro para reduzir o impacto inflacionário do câmbio.

Discutimos constantemente se esta medida foi feita em confluência com o Banco Central ou se a Fazenda novamente se atropelou e tomou a decisão de forma unilateral, coisa bastante possível dado eventos não muito distantes (novamente, leiam o artigo que citei acima).

Sabemos que o governo é um elemento que infelizmente, e historicamente, joga contra a atividade econômica no Brasil, seja por uma questão cultural ou por incompetência administrativa, mas passamos nos últimos 20 anos por alterações de suma importância no Brasil e a agenda é mais do que clara das mudanças necessárias para melhorar a situação daqui.

Porém, a perspectiva negativa para a nota de crédito brasileira é resultado desta incompetência, com gastos elevados e crescimento pífio da economia. A prova disso está nas desonerações tributárias, pois ao invés de buscar uma reforma do complexo sistema atual, o governo continua a insistir nas reduções pontuais de IPI e deixa de lado o que realmente importa.

Resumindo isso tudo, a retirada do IOF é importante, pois era mais um elemento perverso e bizarro que reduzia o fluxo de investimentos ao Brasil, afinal, dependemos muito da poupança externa. Porém, foi feito pelas razões erradas e pode não surtir o efeito desejado na valorização do Real.

Ao menos, numa possível recuperação futura do Brasil, um canal importante de recursos deixar de estar “entupido”.

 

After all, you can’t polish a turd.