Na calada da noite, o governo sorrateiramente eleva a taxação (IOF – Imposto sob Operações Financeiras) de cartões pré-pagos internacionais de débito e travelers-checks, sob a desculpa de isonomia, ou seja, um meio de pagamento estava sendo preterido pelo outro, devido à menor taxação.

Obviamente, o governo viu ali uma enorme brecha de arrecadação e como não existe nenhuma sinalização de que haverá algum tipo de reforma na maneira como se cobram os impostos no Brasil, a tendência continua da criatividade para se buscar dinheiro como “nunca antes neste país”.

O CUSTO BRASIL

A taxação vis-à-vis o PIB no Brasil é certamente um dos principais elementos que trava nossa competitividade, pois representa quase um terço de tudo que produzimos no país. Observem abaixo a tabela da Heritage Foundation:

 

Estamos com uma taxação próxima aos estados de bem-estar europeus e muito acima de nossos pares entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) e pior, acima também da maioria dos países chamados emergentes. Obviamente, se houvesse um retorno digno dos impostos cobrados, nada disso seria um problema, porém o que vemos é a deterioração constante e perigosa de diversos setores que intensivamente necessitam do governo.

Os mais sensíveis, educação e infraestrutura continuam numa espiral descendente, mesmo com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e com um número maior de pessoas com educação média e superior.

EDUCAÇÃO EM SEGUNDO PLANO

Segundo dados de 2012 do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil está em 58o num ranking educacional de 65 países, ou seja, péssimo. Mesmo assim, o governo comemora uma pseudo-melhora no cenário.

Melhora? Este é o grande problema, é como aquele comercial sobre o Rugby brasileiro onde diz que ”Em 2003 estavamos em 5o no ranking sulamericano, enquanto a Argentina era o 1o; em 2010 nós subimos para 4o e a Argentina, 1o. Isso mostra a evolução do Rugby brasileiro e a estagnação da Argentina”.

 

É exatamente esta comemoração que fazemos na educação. Estávamos um lixo, agora estamos um lixo, porém melhor pontuados. Sem educação, sem infraestrutura, sem competitividade global, o resultado é um só, somos um país fechado e caro para seus habitantes.

DE VOLTA AO IOF

Revolvemos todo o tema acima para retomarmos o assunto do IOF. As contas externas brasileiras estão em seu pior estado desde 2000, onde mesmo um Real desvalorizado não tem dado impulso aos ganhos do setor exportador.

Com isso, o governo se preocupa cada vez mais com os constantes gastos dos brasileiros no exterior. Este seria o segundo real motivo para a elevação do IOF, uma tentativa de reduzir as compras em terras estrangeiras (em resumo: Buenos Aires, Miami, Nova York e mais recentemente, Las Vegas). Porém, os 6,38% não reduzirão este ímpeto de gastarmos nossa poupança em terras alheias simplesmente pelos motivos que citei acima, pois somos um país extremamente caro para os brasileiros.

A melhora na renda trouxe a possibilidade de viajar ao exterior a um número expressivo de pessoas e ao faze-lo, cresceu a consciência de que nossos preços estão muito longe da realidade.

Pagamos mais caro por tudo, desde comida até habitação. O custo de um produto totalmente nacionalizado é muito superior à média internacional e além dos impostos, as margens de lucro no Brasil estão entre os componentes que continuam a atrair investidores estrangeiros, apesar de todos os problemas e burocracia.

PROTEGER O BRASIL

O problema é que nesta tentativa de “proteção dos interesses nacionais” existe a possibilidade de descambarmos no futuro para atitudes argentinas quanto ao comércio exterior e compras de indivíduos em viagens internacionais.

Isso já ocorre silenciosamente, pois basta observarmos o endurecimento da receita federal nas compras pelo correio e como empresas como Amazon.com e eBay já dificultam em muito o envio de mercadorias para cá.

Por enquanto, ainda vale muito a pena o consumo externo. Se um brasileiro deixar de comprar por um ano produtos mais supérfluos, como roupas, enxovais, eletrônicos, brinquedos e etc, ele economiza o suficiente para viajar, adquirir tudo isso com boa qualidade, fazer turismo e ainda guardar algum dinheiro, após ter se divertido.

Muitos brasileiros já fazem isso e se o governo decidir fechar esta porta, infelizmente abrirá espaço para que a inflação se torne cada vez mais endêmica, pois quanto mais fechada se torna uma economia, mais dependente de uma oferta agregada reduzida ela é. E pior, além de não proteger a indústria, perpetua o atual processo de sucateamento de diversos setores. Afinal, sem concorrência, para que investir?

A SAÍDA DE CURTO PRAZO

A taxação os cartões pré-pagos é um enorme retrocesso para este meio de pagamento, já que uma das suas principais funções é trazer segurança àqueles que o detém, pois evita o transporte de quantidades de dinheiro em espécie (com possibilidade de perda, roubo

Para evitar o imposto, o transporte em cash é uma saída, porém existe outra. Ao viajar ao exterior, é comum encontrar nos aeroportos empresas como Discover, Visa, Mastercard, Amex entre outras que oferecem o mesmo serviço de cartão de débito pré-pago, sem as taxas cobradas no Brasil.

Normalmente, a aquisição é rápida, desburocratizada e leva em consideração um custo médio de US$ 9,00 pela aquisição do cartão (geralmente de graça no Brasil), porém, com cargas acima de US$ 500,00 o custo ainda compensa pela ausência do IOF.

É importante lembrar de se manter uma quantidade de dinheiro em espécie, pois cada transação de saque tem um custo médio de US$ 2,50, portanto, deixe o suficiente para os taxis e comidas na rua.

Ao final da viagem, mantenha um saque mínimo para zerar o cartão que seja possível ser feito em caixa eletrônico, considerando a tarifa de US$2,50 e o faça antes de embarcar (ou melhor, antes de ir ao aeroporto).

Por exemplo: se sobraram US$ 100, gaste ao menos US$ 7,50 e saque US$ 90, pois a maioria dos caixas avulsos (sem bandeiras bancárias) possui saques com notas de no mínimo US$ 20. Em casos de caixas com a bandeira do cartão, em algumas localidades é até possível sacar notas de US$ 1, portanto, mantenha no mínimo US$ 3,50.

No Brasil, revenda os dólares restantes em uma casa de câmbio ou os mantenha para uma próxima viagem.

Numa viagem de duas pessoas, com gasto médio de US$ 2000 (ou R$ 5000 em média, pelo câmbio turismo do dia 3 de janeiro de 2014), o valor do cartão nos EUA seria de R$ 22,5, totalizando um custo de R$ 5022,5 (não considerando que sobrem dólares).

Esta mesma viagem sendo feita com cartão de crédito, débito ou travelers check emitidos no Brasil teria um custo de R$ 5319,00, ou seja R$ 297 a mais, US$ 118 a menos para o consumo. Se consideramos o custo médio dos produtos no exterior, US$ 118 são dois dias de almoço e jantar para duas pessoas (nada sofisticado, obviamente).

BraZil

Nossa intenção é mostrar que se racionalizarmos os impostos e direcionarmos os gastos, principalmente para educação, o Brasil se torna um país de primeiro mundo em pouco mais de uma década. Todavia, a sensação é de que não existe vontade política para tanto e se continuarmos desta maneira, o potencial máximo de crescimento até 2040 é de 3% ao ano.

Isso é péssimo para uma economia dessa dimensão, com potencial de consumo e crescimento muito grande. Acima de tudo, depende de nós, brasileiros, lutarmos para que um cenário melhor se concretize.

Enquanto o governo acredita que os economistas estão em um "coro pessimista", desejando o mal do país (sabe-se lá por que torceriamos contra), ele esquece que a abertura de um diálogo com essa classe seria um dos caminhos mais importantes para se rever de maneira realista os rumos pelos quais a economia tem tomado e buscar uma solução. Conclamar uma "torcida contra" demonstra o despreparo da equipe econômica, principalmente com a comunicação.

Somente como comparação, estes são os preços cobrados aqui e nos EUA de produtos importados (neste caso, Coréia do Sul e Alemanha) considerando um salário mínimo brasileiro de R$ 724,00 (US$ 289,00) e americano de R$2.900 (US$ 1.160):

Smart TV 3D LED 55" LG 55LA6200 FULL HD 3 HDMI 3 USB Wi-fi 120Hz + 4 Óculos 3D

R$ 5.999,00 – Brasil (US$ 2.399,00)

R$ 3.265,00 – EUA (US$ 1.450,00)

Golf GTI 2.0 Turbo (220 cv) DSG 6 marchas

R$ 94.990,00 – Brasil (US$ 37.996,00)

R$ 62.738,00 – EUA (US$ 25.095,00)