O PIB americano não foi ruim. Este é o resumo mais curto que se pode ter dos resultados do crescimento americano divulgado ontem. Muitos devem se perguntar por que tal premissa após uma queda trimestral de 0,1%.

A primeira coisa que aprendemos no curso de economia é que não existe nada absoluto e que todo indicador deve ser observado de maneira desagregada.

Exatamente ao desagregarmos o PIB, temos uma série de surpresas positivas. Primeiramente, o mercado imobiliário. O grande artífice de toda esta crise é agora um dos seus “salvadores”.

O crescimento anual da construção de imóveis residenciais atingiu 15,3% e incrementou o PIB em 0,4%. Nesta mesma linha, os gastos dos consumidores atingiu alta de 2,2%, resultado de um aumento considerável no consumo de bens duráveis (bom para os EUA, bom para a China), com a maior elevação em 2 anos.

Mas e a queda? Muitos se perguntam. Sim, foi resultado de um decréscimo acelerado dos gastos do governo, principalmente militares. E não era exatamente isso que todos esperavam, devido à questão fiscal?

Pois então, apesar da queda dos gastos do governo americano, o investimento dos negócios também cresceu de maneira ordenada. Os gastos com bens de capital no último trimestre saíram de uma queda de 1,9% para uma alta de 8,4%, com alta de 12,5% no investimento de equipamentos e software.

E mais, a queda nos estoques foi resultados de vendas muito acima das expectativas e levou a maiores gastos para a produção de bens e assim, cumprir com a elevação de demanda.

Para termos uma ideia mais precisa, PIB americano atingiu um auge de US$ 13,3 trilhões em 2007 para cair para US$ 12,8 trilhões no segundo trimestre de 2009. Neste momento, o PIB atingiu US$ 15,8 trilhões, ou seja, acima do nível pré-crise.

Eu já deveria estar acostumado com esta reação esquizofrênica do mercado à leitura sem conteúdo dos números, porém confesso que continuo desacostumado.

Se observarmos ontem, não somente o PIB americano foi uma grata surpresa assim como a criação de postos de trabalho no setor privado de 192.000, 20.000 acima das projeções e 7.000 acima do anterior revisado.

O que mais assustou o mercado? O FED manter os estímulos e dizer que a economia ainda está fraca? É obvio que está fraca, muitos citam isso há muito tempo e é a demonstração de que a economia deve passar por muitos percalços até a recuperação total dos eventos de 2008. O desemprego está fora de padrão, os pares dos EUA na economia mundial estão fracos e muitos preços continuam pressionados, principalmente de commodities.

Disse isso ontem e repito isso hoje, serão mais cinco anos até a recuperação total.

Mas ao fim de tudo o resumo é um só, o mercado estava pesado, com altas consecutivas e precisava vender. E achou uma desculpa, ou um pêlo em ovo, para isso. (e sim, eu uso acento em pêlo).