No final do mês passado, uma matéria no valor coincidiu exatamente com uma conversa que tive com um gestor de fundos aqui no Brasil. A diversificação é a palavra de ordem em tempos de juros baixos, mas quando perguntei se investir lá fora seria uma opção, a resposta me impressionou.

Ele não só já investia como tem intenção de alocar até um quinto do total de seu fundo multimercado no exterior. Parte disso vem de uma demanda explicita dos clientes, muitos deles atrás de ganhos de empresas de tecnologia americanas como Yahoo, Google e Apple.

Porém, os BDRs (Brazilian Depositary Receipt)* exigem qualificação dos investidores, ou seja, R$300 mil no mínimo aplicado e isso afasta todo um grupo de investidores interessados em investimentos externos.

É possível a um investidor individual aplicar dinheiro em qualquer lugar do mundo, o Brasil não restringe esse tipo de investimento, porém não existem instituições no país que ajudem neste processo, nem mesmo os bancos e corretoras estrangeiras.

Além disso, o investidor deve buscar proteção contra a oscilação cambial, pois qualquer valorização do Real (ou seja, queda do dólar aqui dentro) corroerá os ganhos como um todo, às vezes de maneira acelerada.

Por isso, os fundos podem começar a se tornar grandes opções para estes aplicadores, uma vez que o mercado de renda variável “lateralizado” e de renda fixa em queda no Brasil começam a limitar as opções de ganhos.

Todavia, devemos que ter em mente algumas coisas importantes sobre os investimentos no Brasil. A nossa antiga taxa de juros inseria o país numa surrealidade poucas vezes vistas no mundo.

Esqueçamos o passado hiperinflacionário, pois aí saímos do surrealismo para o abstrato completo em termos de juros e aplicações.

Porém, o passado recente ainda nos mostra o quão fora de padrão estávamos no Brasil. Fundos de pensão e de investimentos eram tão confiantes na taxa que tinham como regra a entrega de pelo menos 12% ao ano de rendimento.

Chegamos ao ponto de membros do setor produtivo justificarem a elevadíssima lucratividade, pois não valeria ganha menos, afinal “o rendimento seria muito melhor nos juros”.

Com isso, ficamos todos mal acostumados com ganhos que simplesmente não se justificam na realidade. O que acontece no Brasil, quando diversas pessoas agora reclamam da falta de alternativas é na verdade o mergulho ao mundo verdadeiro.

Aplicações de renda fixa nunca deveria recompensar o investidor com o faziam no Brasil, simplesmente não há sentido nisso. O ganho vem maior apetite pelo prêmio de risco e isso é uma verdade inexorável.

Portanto, não adianta reclamar da falta de ganhos nas aplicações atuais, pois muito do que falta é educação financeira para diversificar os investimentos e buscar alternativas com rendimentos dentro da realidade.

Usar as bolsas de valores como instrumento de poupança requer certo conhecimento, porém nada que um analista ou um agente de investimentos não seja capaz de traçar e assim ajudar um investidor individual.

A poupança sempre foi um concorrente desleal, pois é um ativo de total liquidez, sem nenhuma burocracia, rendimento certo, garantias governamentais e ausência de taxação.

Com a queda nos juros, muitos agora reclamam da burocracia para se investir em tesouro direto e mesmo em ações. Acho injusta essa comparação, pois uma conta em corretora tem as mesmas exigências de abertura de uma conta bancária e a maioria simplesmente não cobra manutenção.

O mal costume de se “investir” em algo tão fácil quanto a poupança faz dos outros ativos algo aparentemente complicado. Devemos lembrar que acima de tudo, os juros baixos inserirão o Brasil numa realidade de custos mais baixos e possibilidades futuras (sim, AINDA futuras) de crédito com taxas menos predatórias.

E na busca pela diversificação dos investimentos, como citei acima, existe espaço também pelos investimentos no exterior. O cenário é mais fácil para quem aplicar em um fundo multimercado com uma parcela externa, mas caso seja grande o desejo de operar direto nos EUA, eis alguns passos.

  1. Abra uma conta bancária em algum banco no país em que deseja operar. Entre as opções estão o HSBC e o Citibank que permitem abertura de conta corrente internacional. Há bancos nacionais também como o Banco do Brasil e o Itaú;
  2. Abertura de conta em uma corretora no país em que deseja operar. O processo costuma ser muito mais simples que no Brasil, mesmo para operações em bolsas de valores;
  3. Transferência dos valores, o que pode ser feito através de remessa internacional simplificada;
  4. Transferência dos valores à corretora;
  5. Acesso ao DMA da corretora.

É importante lembrar que os ganhos nos EUA são sujeitos à taxação na fonte de 30%, mesmo a não residentes e quando o dinheiro retorna ao país, existe também taxação progressiva que pode chegar a 27,5%, ou seja, além da corretagem, os impostos devem ser considerados na sua operação. A corretagem nos EUA costuma variar bastante, mas algumas corretoras cobram por um pacote de operações, por exemplo, acima 150 trades num trimestre custam US$ 7,99 por operação. Outras cobram um fixo entre US$ 3,95 e US$ 4,95 por operação. A maioria demanda um deposito mínimo de US$ 500.

Nada muito longe do padrão cobrado no Brasil, mas como podem ver, o processo todo pode não compensar muito, principalmente por não poder aproveitar do grande número de vantagens que as corretoras no exterior oferecem.

Portanto, operar lá fora ainda parece caro, principalmente se o investidor não fizer qualquer proteção contra as oscilações do dólar, mas a crescente oferta dos fundos locais pode suprir parte desta demanda. Operar no exterior pode ser a palavra de 2013.

 

 

 

* Segundo a BM&FBovespa: BDR é um certificado representativo de ações de emissão de companhias abertas, com sede no exterior, e emitido por instituição depositária no Brasil. Os BDRs negociados no Brasil têm como lastro ações das empresas estrangeiras. As ações estrangeiras ficam bloqueadas no exterior na conta da instituição custodiante do programa numa entidade equivalente à CBLC, e aqui no Brasil os BDRs são emitidos por um banco depositário, representante da companhia no Brasil.