Sell in May and go away” se você já ouviu esta frase, sabe que há muitos anos ela faz parte do imaginário do mercado financeiro. Fazia!

O tal “sell in May” era considerado um movimento pré-férias de grandes fundos de investimento, para que seus operadores pudessem curtir as férias de verão sem estarem posicionados, ou seja, todo mundo saia de posições compradas em ações antes de levar a molecada para a Disney. Uma bela realização de lucros.

A lenda diz também que o retorno da compra de ações se daria em novembro, logo após o Halloween como parte do movimento de alta do fim do ano.

Ao observamos o movimento do mercado em termos históricos, o sell in May se repetiu por alguns períodos, quase como uma “verdade” e a redução do volume, principalmente nas bolsas americanas se concentrou em junho e julho. Isso pode realmente se explicar pelo período de férias escolares de verão, as mais longas no hemisfério norte.

Porém, o volume não se reduz absurdamente nestes meses e sequer demonstra-se um retorno somente em novembro, como diz a lenda. Agosto já dá sinais mais concretos de retorno dos investidores e o período de festas serve realmente como um impulsionador de posições compradas.

Obviamente estamos falando do hemisfério norte (principalmente EUA) e de condições normais de mercado.

Este ano está sendo especialmente enfático contra a lenda do SIM. Estamos praticamente no fim do mês e apesar de leves movimentos de correção, as bolsas de valores internacionais insistem em fortes altas e na coleção de novos recordes a cada semana.

Parte deste movimento se baseia efetivamente em indicadores econômicos, na média bastante positivos e acima das projeções de economistas, além da temporada de balanços que trouxe muito mais surpresas positivas do que negativas neste contexto.

O programa de alívio quantitativo do Federal Reserve teve sucesso em um ponto importante, no achatamento da curva longa de juros, sendo que o rendimento de Treasuries de 30 anos não ultrapassa os 3,15% aa e o 10 anos não consegue romper os 1,92% aa.

Isso faz com que uma massa de investimento continue a buscar o risco em termos globais e as bolsas de valores tem sido o principal alvo, já que commodities tem um potencial inflacionário muito grande, como foi observado no boom de 2007.

Mas aí vem a pergunta: Por que a maioria das bolsas europeias (em exceção de Portugal), tem colecionado recordes atrás de recordes? Este é o ponto mais intrigantes da questão, pois o desemprego em alta e os programas de controle de gastos mantêm o consumo contraído.

Obviamente, as empresas precisam vender e mesmo que o superávit de balança comercial da Zona do Euro tenha crescido, isso demonstra que as vendas externas estão indo bem, mas os números de confiança dizem o contrário quanto às vendas internas.

Ou seja, não adianta as empresas listadas nas bolsas de valores do velho continente somente exportarem, elas precisam vender aos seus cidadãos e isso não tem ocorrido. Um dos principais motivos tende a ser exatamente a falta de opções.

É quase uma aposta em junk bonds (os quais tem vendido absurdamente no mundo), ao comprar ações de empresas das quais os resultados não tem vingado devido à situação macroeconômica.

Na Ásia, de um lado existe o Japão e seu processo de estímulo à economia (bem sucedido no curto prazo, talvez desastroso no longo) e do outro a China, que luta contra seu próprio aquecimento econômico setorial (bolha imobiliária), mas tenta a todo custo manter o cenário para o crescimento global (indústria).

Mesmo assim, as altas por lá também se repetem e com força. E o que restou ao “patinho feio” do mercado de renda variável? Às moscas, o Ibovespa pode ser chamado de “siri feio” das bolsas, de tanto que anda de lado.

Já expliquei e teorizei por diversas vezes os motivos pelos quais nosso mercado anda tão sem atração, até mesmo pelo investidor local, o qual poderia se beneficiar em muito dos ganhos deste tipo de investimento, mas adiciono mais um fator a este problema.

Temos um índice contaminado. Vamos imaginar um Ibovespa diferente, sem tanto peso de Vale, Petro, X isso, X aquilo entre outras. As empresas de consumo, diversas mid e small caps, empresas de serviços tem potencial de trazer grandes ganhos aos investidores, porém o mercado com o atual volume concentrado evita que tal movimento se propague.

Além disso, a tomada de posições vendidas no índice evita que São Paulo consiga sequer seguir os rumos de Nova York e faz com que nosso desempenho desde 2008 seja um dos piores do mundo.

O cenário de incertezas, risco regulatório e mais aquele monte de coisa que eu e outros colunistas aqui estamos cansados de citar reforça esse cenário e transforma nossa bolsa em algo para profissionais. Deste modo, o tal investidor “pessoa física” simplesmente foge deste mercado, mesmo com juros historicamente baixos.

Voltando ao Sell In May, aparentemente deixaremos a mítica de lado e maio pode ser mais um mês positivo para o mercado e somente um provável fim do Quantitative Easing 3 seria forte o suficiente para reverter tal cenário.

Com isso, a ata da última reunião do FOMC ganha vital importância, além das declarações de membros do Fed, como Fisher, que diz que isso seria “muito violento” ao mercado neste momento.

Como sempre, atenção total aos eventos.