Mas o Brasil era f… nessa época.  A gente vivia numa inflação imbecil, as mesas de operações contratavam uns economistas a peso de ouro pra “prever” inflação e operar papel, mas na verdade os caras tinham esquema na Fipe, na GV e tals.

Outros bancos e corretoras tinham gente fazendo coleta de preço, meio que um índice de inflação “do B” pra tentar adivinhar e cada pontinho mais perto, era um lote de dinheiro. Minha irmã fez coleta de preços pra gente, ganhava um cascalho bom.

Operações de Over (over night), no open, ORTN (TR+6%+inflação), LTN, BTN, operações com rendimento negativo pra fechar a diferença no dia seguinte.  Eram mercados muito ativos, papel, futuros, bovespa, tudo junto nas mesas e girando frenético.

Era muito loco isso e sem computador. O primeiro que eu vi que nem sei o nome era uma parada enorme, que parecia um avião ligado, com uma tela verde escrota e pequena e usava uns discão preto e mole.  A impressora era tão barulhenta que ficava numa caixa com espuma pra diminuir o ruído.

O ticker ficava criando aqueles mini confetes e muita gente até hoje nem faz idéia de como ler mercado naquilo.

Máquina de escrever, cada corretora tinha umas 50 e papel carbono, era lote. A gente fumava na mesa e tudo tinha um cheiro misturado de Carlton e café, em todas as corretoras. Em 90 eu fui pra mesa fazer câmbio e já era uma loucura acelerada, com o fim do governo Sarney e início do Collor.

Cara..o, cadê minha poupança? O Fernandinho Viadinho rapou nós e conseguiu piorar tudo. Depois de plano cruzado I, plano Bresser, plano verão, plano cruzado II aí vinha o plano Collor I e como não funcionou, veio o Collor II.

Operar em cima de inflação era lindo. Lembro em abril desse ano que o IPCA anual tava perto de 7000% ao ano. Não tá errado não, era 7000% ao ano. Era um fenômeno de dinheiro, mas era ilusão já que a inflação comia tudo.

Eu recém casado fazia o esquema de receber meus totós no dia 14 que não enfrentava aquele esquema loco de gente fazendo mercado dia 10. Preço subia todo dia e eu todo xique, tinha um cartão da American Express. Se eu pagava com ele no restaurante, o maitre vinha com a conta reajustada e usava uma tabela da administradora do cartão. ISSO NÃO EXISTE, É LOCO DEMAIS.

Veio 95, eu já tinha trocado de mesa duas vezes e o Fernandão foi uma benção depois do Fernandinho Karatê. O problema é que a inflação fez falta no mercado, a gente não sabia mais operar, tiraram a ORTN e puseram a OTN, os preços não disparavam mais e o bando ficou de calça na mão.

O negócio foi bom pro Brasil, mas doido levou uma cara no mercado pra entender. A BM&F nessa época tava bombando e os esquemas mais lindos que nunca. Fernandão segurou bem e a gente só tá aqui hoje por causa dele.

 Teve um monte de crise no Fernandão e não gosto de como no fim do mandato o Serrador deu uma de Pedro e negou o cara por um monte de vezes para tentar ganhar do Molusco Sabão.

Em 99 eu tava no FRA e daí saiu também uma grana fenômeno. O esquema ainda tava forte e levar os caras pra puteiro era commodity, doido já esperava pelo menos uma vez por mês. Uma trepadinha, noitada de dois kilos e no dia seguinte, o cara derramava uma correta de 200 kilos.

Por isso não tinha miséria nas corretoras, quem tinha relacionamento, era pra levar os doidos pra balada. Puta, álcool e outras cositas mas eram parte das festas. Nossa corretora tinha flat alugado em cima do America da Hélio, por que ficava mais barato que pagar tanto quarto.

Era tudo muito loco, mas foi época de ganhar muita, mas muita grana. Hoje eu confesso que esse esquema rolou por tantos anos que acho que foi ele o responsável pelo fim dos dois pregões.

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