A economia é prática, é pragmática e toda vez que alguém coloca ideologia no meio, ela normalmente perde valor.

É assim que o presidente uruguaio Luiz Lacalle Pou deixa claro suas ideias em defender o que ele entende como soberania econômica de seu país.

Lacalle, um político de centro-direita, certamente não vê com bons olhos a lógica intervencionista de governos na economia como faz a vizinha argentina e como promete voltar a fazer o Brasil com o novo governo petista.

Depois de visitar a Argentina, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou hoje, no Uruguai, com o presidente Lacalle Pou para tentar demovê-lo de fazer um acordo unilateral de livre comércio com a China.

Brasil e Argentina, os maiores sócios do Mercosul e criadores da ideia do bloco nos anos 80, com José Sarney e Raul Alfonsín, temem que o imposto zero de entrada num eventual acordo assinado pelo Uruguai inundaria a região com produtos chineses, sobretudo de bens industrializados.

Faz sentido a preocupação brasileira e argentina? Até faz. Mas o que o Mercosul tem avançado em se conectar com as maiores economias do mundo e atender os desejos não só do Uruguai?

A decisão uruguaia de se unir à China é só mais um capítulo das tentativas do país de se desvencilhar das amarras do Mercosul que o presidente Lacalle Pou chama de “a quinta região mais protecionista do mundo”, e defende acordos unilaterais fora do bloco ao dizer que “o Uruguai precisa se abrir ao mundo”.

As declarações foram dadas ontem durante a Cúpula da Celac, a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos.

Hoje, na reunião com Lula, o presidente uruguaio propôs discussão de política comercial de gente grande.

O Mercosul foi criado para juntar forças de países que, em bloco, poderiam negociar mais e melhor com o mundo, como foi o acordo recente com a União Europeia, cuja implementação vem sendo adiada por boicote de alguns países europeus protecionistas como a França que, sob a alegação de questões ambientais brasileiras, quer mesmo é proteger seus agricultores muito menos competitivos e produtivos que os Sulamericanos.

O acordo Mercosul-União Europeia foi fechado durante o governo Bolsonaro e o Uruguai se pergunta que apoio deram os atuais presidentes de Argentina e Brasil, Alberto Fernández e Lula, para pressionar os europeus? Ou a política menor de ataques a opositores locais prevaleceu?

Na visão prática e pragmática da ideia uruguaia de Mercosul, o bloco precisa avançar para a modernidade de acordos que estão sendo firmados pelo mundo, como o Tratado Transpacífico, para o qual o Uruguai, dando as contas ao Mercosul, já solicitou a adesão em dezembro de 2022.

A reclamação por modernidade comercial e soberania do Uruguai de Lacalle Pou, em relação ao Mercosul, chega no mesmo momento em que o presidente Alberto Fernández, de uma Argentina em crise e endividada, mas uma aliada politicamente do Brasil de hoje, implora pelo dinheiro do BNDES para a construção de um gasoduto.

Lula, que tem a pretensão de liderar a América do Sul, pode escolher entre ser um líder global, moderno, pragmático e justo para levar o Mercosul à modernidade, como quer o Uruguai, ou ser um painho regional que passa a mão na cabeça de quem não faz a lição de casa, e ignora a economia e os fatos em nome de alianças políticas por ideologia, não pragmatismo.

Como é bom sempre lembrar a frase notória das relações exteriores, países não têm amigos, países têm interesses.

“Lula, que tem a pretensão de liderar a América do Sul, pode escolher entre ser um líder global, moderno, pragmático e justo para levar o Mercosul à modernidade, como quer o Uruguai, ou ser um painho regional que passa a mão na cabeça de quem não faz a lição de casa, e ignora a economia e os fatos em nome de alianças políticas por ideologia, não pragmatismo. Como é bom sempre lembrar a frase notória das relações exteriores, países não têm amigos, países têm interesses.”