58.000, número chave. 58.000 na média. Este é o valor do Ibovespa desde a derrocada dos 68.394 pontos no pico de março do ano passado. Uma resistência forte aos 62.500 e um suporte de 55.000, a bolsa simplesmente não anda.
Muito ainda relembram os bons tempos acima dos 70.000 pontos, dos ganhos progressivos no ano de 2007 e 2009 (pós-crise), porém as chances começam a minguar. Desde a eleição de Dilma, as ações da Petrobrás sofreram um revés impar.
Isso afeitou o mercado como um todo e o IPO mal sucedido da estatal (não no sentido de vendas, mas na decepção posterior) afastou uma parcela significativa dos já minguados investidores individuais, conhecidos como “pessoa física”.
A promessa deste lançamento era um impulso às novas emissões em no ano seguinte e por ser o “maior lançamento de ações da história do capitalismo”, isso impulsionaria o mercado acionário.
O ano de 2011 foi sui generis, com excessiva volatilidade e falta absoluta de direção. A crise na Europa sofria uma segunda edição, agora com mais força, os EUA patinavam no crescimento e a China lutava contra a inflação.
Todos esperavam um ano superior ao de 2007 em lançamentos, mas ao contrário, 2011 teve somente 11 lançamentos. E as novatas sofreram bastante com seus IPOs.
O número em 2012 foi gritantemente pior, com 3 lançamentos somente, mesmo que o ano não tenha sido tão ruim quanto o anterior.
Há um cenário mais promissor neste ano, nada que se diga “oh, que ano de IPOs”, mas os bancos de investimento têm algumas empresas na fila para o processo, as quais esperavam um momento mais propício.
Porém, temos que colocar uma dose de realidade nos fatos. Operar no mercado brasileiro está ruim, desde as restrições às operações de renda fixa por parte dos estrangeiros.
Parecem duas coisas distintas, mas não são. O estrangeiro operando no Brasil gerava negócios em renda variável com isenção de impostos, porém, como inclusive faziam os investidores brasileiros, quando a bolsa não estava muito boa, migrava uma parcela dos investimentos para a renda fixa.
A elevação de impostos e a alteração constante de regras (famoso “risco regulatório) afastou uma parcela significativa destes investidores, exatamente para evitar investimentos mais arriscados em um momento delicado da economia mundial.
Os investimentos em private equity, aqueles em empresas, debentures, empréstimos e outras modalidades ganharam força pelo menor risco e absorveram uma parcela grande daquilo que ia para o mercado financeiro.
Mas o risco de intervenções do governo, mesmo muitas consideradas bem vindas continua grande e convenhamos. Num cenário global de volatilidade, se você fosse um investidor estrangeiro, você correria a série de riscos que o mercado brasileiro apresenta?
Se você disse NÃO, essa é a exata resposta do estrangeiro. E sim, ele é muito importante para a liquidez do nosso mercado. A bolsa brasileira (Bovespa) é uma das maiores do mundo, mas possui quase um décimo do volume diário comparado à NYSE, o que ainda é pouco. E tem sido difícil deslanchar esse mercado de vez.
Numa comparação interessante, a Bolsa Nacional da Índia, que possui mais de 10 vezes o número de empresas listadas comparativamente ao Ibovespa (4700 x 455), opera a metade do volume diário.
O crescimento dos investidores individuais no Brasil não consegue romper há anos a barreira dos 600.000, com um ganho médio de 20.000 em anos bons. Ou seja, são menos de 2.000 clientes mês para serem divididos entre 56 corretoras, o que daria uma média de 30 clientes novos para cada.
Isso simplesmente não fecha a conta e as corretoras colecionam meses e meses consecutivos de perdas.
A esperança para este mercado reside tão somente na recuperação econômica e na ausência de opções viáveis de investimento no Brasil pela forte queda nos juros.
Porém a falta de educação financeira pode levar a um crescimento do número de clientes até superior aos últimos anos, mas tende a elevar a saída dos mesmos em poucos anos, ou seja, continuaremos com a mesma média de clientes de antes.
Em resumo, a história muda, mas os personagens continuam os mesmos.