Em 24 de outubro de 1929, conhecido como a “Quinta-feira Negra,” o mercado de ações começou a despencar e o pânico se instalou.
Muitos investidores tentaram vender suas ações ao mesmo tempo, fazendo com que os preços caíssem ainda mais.
A crise se intensificou na “Terça-feira Negra”, neste exato dia, em 29 de outubro de 1929, há 95 anos, quando a bolsa despencou ainda mais, consolidando o que se conheceu como a quebra da bolsa de ’29.
A Grande Depressão, uma das maiores crises econômicas da história moderna teve consequências globais e impactou profundamente o sistema financeiro e a economia de diversos países.
Nos anos 1920, a economia norte-americana cresceu rapidamente e a confiança no mercado de ações estava em alta.
Muitas pessoas investiam na bolsa, inclusive contraindo empréstimos, o que gerou uma bolha especulativa, com ações supervalorizadas em relação aos lucros reais das empresas (já vimos isso recentemente).
A alavancagem dos empréstimos, semelhante a o que ocorreu na crise de hipotecas (subprime) de 2008 levou pessoas e empresas a investirem em níveis insustentáveis.
Quando os preços das ações caíram, muitos investidores não conseguiram cobrir suas dívidas, o que resultou em um colapso financeiro.
Novamente num forte paralelo à crise de 2008, muitos bancos haviam apostado pesadamente em ações e emprestado dinheiro a investidores.
Quando o mercado desabou, os bancos sofreram grandes perdas e muitos faliram quase que imediatamente, levando os poupadores a perderem suas economias, mesmo aqueles que não tinham investido em ações.
Como consequência, o desemprego disparou, chegando a cerca de 25% e com a queda na produção industrial e agrícola, milhões de pessoas perderam seus empregos.
A crise provocou um aumento dramático na pobreza, com famílias perdendo suas casas e enfrentando dificuldades extremas para obter alimentos e abrigo.
Além disso, a crise impactou o comércio global, pois países adotaram medidas protecionistas, como a tarifa Smoot-Hawley, que aumentou os impostos sobre importações, reduzindo o comércio internacional e agravando a crise em outros países.
A reação inicial do governo norte-americano foi limitada, pois havia a crença de que a tal “mão invisível do mercado” corrigiria o problema.
No entanto, como isso não aconteceu, o presidente Franklin D. Roosevelt implementou o New Deal, um conjunto de políticas para estimular a economia baseadas nas teorias do economista John Maynard Keynes, gerar empregos e reformar o sistema financeiro.
Entre as medidas estavam programas de infraestrutura, reformas bancárias e a criação de agências como a FDIC (para proteger os depósitos bancários) e a SEC (para regulamentar o mercado de ações).
A crise de ’29 teve um impacto duradouro sobre a economia global e resultou em mudanças significativas nas políticas econômicas e a necessidade de regulamentar o sistema financeiro.
A crise também influenciou o desenvolvimento de teorias econômicas, como o keynesianismo, que defende o papel do governo em estabilizar a economia e ainda que discutível sob a óptica moderna, teve papel importante naquele momento específico.
Além disso, a Grande Depressão ajudou a moldar a geração da época, a Geração Silenciosa (pais dos Boomers) que viveu anos de escassez e desenvolveu uma mentalidade de cautela e contenção que permaneceu durante décadas.
Para o Brasil, a crise de 1929 foi uma importantíssima oportunidade de mudança, em meio à uma jovem república, ainda presa aos dogmas das gerações anteriores.
Na época, o café era o principal produto de exportação do Brasil, representando mais de 70% das receitas externas e com a queda na demanda mundial, o preço despencou, o que causou um grande rombo na economia.
As exportações caíram drasticamente e o governo passou a comprar e queimar estoques de café para tentar sustentar o preço, mas com sucesso limitado.
A economia e a política eram dominada pelas elites agrícolas, especialmente cafeeria e o colapso do setor fez com que tais elites perdessem parte do seu poder e da sua capacidade de influência.
Isso abriu caminho para novas forças políticas, ao forçar o Brasil a buscar alternativas econômicas para reduzir sua dependência das exportações de café.
O estado de São Paulo liderou as iniciativas de industrialização e o país iniciou uma transição gradual para uma economia mais diversificada.
Esse processo foi o embrião da futura industrialização que se consolidou nas décadas seguintes, especialmente nos anos 1950.
Este cenário levou ao enfraquecimento da política do “café-com-leite” onde o poder se alternava entre as elites agropecuárias do eixo de São Paulo / Minas Gerais.
A insatisfação popular e a perda de influência dos produtores de café culminaram na Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
Vargas implantou uma série de reformas com foco na industrialização e na centralização do poder que visavam modernizar a economia brasileira e o desenvolvimento da infraestrutura e a criação de indústrias de base, como siderúrgicas.
Ainda que existam críticas ao processo sob a óptica atual, essas ações marcaram o início de uma nova fase de desenvolvimento econômico no Brasil.
Foi quando foram criadas leis trabalhistas que buscavam, com a nova horda de trabalhadores urbanos, como o salário mínimo e a jornada de trabalho limitada e na realidade, tal movimento foi uma tentativa de atrair o apoio da classe trabalhadora e reforçar o papel centralizador do Estado na economia e na sociedade.
A crise de ’29 foi um divisor de águas para o Brasil, pois acelerou o processo de industrialização , ao mesmo tempo em que trouxe a centralização do poder político.
Tais mudanças definiriam a economia e a política nas décadas seguintes e tem reflexos até hoje, mesmo após a redemocratização.
Assim como em 2008, esta crise evidenciou a vulnerabilidade das economias com excesso de bolhas financeiras e baixa regulação.
O mundo ainda busca o ponto de equilíbrio entre a liberdade econômica e o papel do estado.
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