Com um discurso mais duro e consistente sobre o combate à inflação e sem qualquer ressalva ou qualificações que possam abrir porta para um aperto monetário menos agressivo de juros, caberá apenas a presidente Dilma Rousseff alterá-la. Essa é a única conclusão que podemos tirar da ata do Copom (Comitê de Política Monetária).
Na segunda – feira passada, a presidente Dilma elevou o tom em seu discurso em entrevista a rádios de Minas Gerais, com relação à inflação e sobre a condução da política monetária com a seguinte frase; – estamos fazendo um esforço grande para fazer a inflação convergir para o centro da meta. Quanto mais o Brasil conseguir se aproximar do centro da meta, mais estável ele fica. É bom lembrar que a aceleração da inflação será provavelmente um tema preferido dos candidatos da oposição durante a campanha eleitoral.
Se os investidores e analistas tivessem essa percepção, de que a condução da política monetária pelo Banco Central estava sendo guiadas pelo centro da meta de inflação, de 4,5%, as expectativas inflacionárias poderiam estar em outro patamar, talvez também até a inflação corrente.
Caso a ata do Copom, junto com o pronunciamento da presidente Dilma fosse em linha, não haveria tantos analistas mudando suas expectativas e revendo suas apostas para a próxima reunião do Copom de fevereiro, tanto para manutenção do ritmo do aperto (mais uma elevação de 50 pontos base) quanto para uma desaceleração para somente 25 pontos base.
Assim que foi divulgada a ata, vários analistas de bancos de investimento enviaram suas impressões, através de relatórios, aos seus clientes, como o Société Générale e o Goldman Sachs. No relatório, os analistas do Société Générale elevaram sua projeção para o ciclo total de aperto monetário em 2014 em mais 100 pontos-base para 11,50%, embutindo nessa aposta uma elevação de 0,50 pontos no Copom de fevereiro. Pela análise do banco francês, a ata foi
"hawkish” (mais agressivo), sendo consistente com a decisão do Copom deste mês. Os analistas destacaram, na leitura da ata, o fato de o BC (Banco Central) ter revisado para cima as projeções para o IPCA de 2014 tanto no cenário de mercado quanto no de referência, e que a projeção do IPCA tanto para 2014 quanto para 2015 permanece acima da meta.
Já o Goldman Sachs destacou a citação na ata da qualificação "neste momento" para a alta de 0,50 da última reunião do Copom, além da ênfase para o efeito cumulativo do ciclo de aperto monetário. "O Copom quer enfatizar que este não tem sido um ciclo nem curto (em curso há dez meses) nem raso (325 pontos base de alta e mais por vir), e, portanto, estamos agora muito provavelmente entrando no estágio final do ciclo de alta de juros e que a próxima ação de política monetária será provavelmente mais moderada (0,25 ponto em vez de 0,50 pontos)", afirmou a nota assinada por Alberto Ramos, economista-chefe do banco para América Latina.
Assim, as visões ainda divergentes entre analistas e investidores sobre os próximos passos da política monetária atestam a falta de uma calibragem mais clara por parte do BC, refletida na ata. Será isso porque o BC não quer se comprometer com uma comunicação mais eficiente daquilo que quer fazer ou porque, devido às limitações do cenário político, o BC não tem como traçar um caminho menos incerto para a política monetária?
Daí, a ata ter levado muitos analistas a chegarem à conclusão de que os próximos passos do Copom serão "data dependente", ou seja, dependente dos indicadores de inflação e de atividade. Assim, a surpresa com o IPCA-15 endossou a disposição dos que leram a ata com uma lupa mais "dovish" (mais brando). O IPCA-15 subiu 0,67% em janeiro ante 0,75% em dezembro de 2013, ficando abaixo do piso das estimativas dos analistas do mercado.
De todo modo, a única certeza que se pode ter da ata divulgada, é que o BC elucidou muito pouco as dúvidas do mercado, em termos de calibragem mais unânime das expectativas de política monetária.