A ata da última reunião do COPOM em setembro mantém parte do tom agressivo do comunicado da semana passada, porém, reduziu um pouco o tom do “recado” em relação ao fiscal, ainda que seja o ponto principal das desancoragens de expectativa de inflação.
No parágrafo 10, o COPOM deixa claro sua visão sobre a abertura do hiato, agora considerada positiva:
“O Comitê segue avaliando que a atividade econômica e o mercado de trabalho domésticos vêm apresentando maior dinamismo do que esperado, levando a uma reavaliação do hiato do produto para o campo positivo.(…) Esse ritmo de crescimento da atividade, em contexto de hiato agora avaliado positivo, torna mais desafiador o processo de convergência da inflação à meta. A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada*(…)”
Já sobre o fiscal (parágrafo 13), o foco do comunicado da semana passada, o COPOM foi resolveu “diluir” o discurso e colocar em suas projeções a “desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos”, algo que está longe de ser sinalizado pelo governo, quando analisado o relatório bimestral de receitas e despesas:
‘(…) a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas. Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária. O Comitê incorpora em seus cenários uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo. Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”
Sobre as expectativas de inflação (parágrafo 14), a desancoragem volta a ter destaque, sendo, junto ao fiscal, a razão pela qual o Banco Central optou por reverter a até recente política de afrouxamento monetário, optando pelo aperto:
“ A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê. A reancoragem … é um elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta ao menor custo possível em termos de atividade. O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação.”
O cenário externo, com o início do corte de juros nos EUA deixa de ter impactos negativos no contexto local, portanto as questões se concentram localmente e em como o Banco Central deve conduzir as expectativas embutidas nas curvas de juros, em meio aos desafios
O Copom argumentou que o início do ciclo deve ser gradual, mas deixou as portas abertas para acelerar o ritmo de aperto à frente, se necessário, o que, na nossa opinião, em meio aos sinais emitidos pelo governo na questão fiscal, pode acontecer na próxima reunião.