Não há grandes surpresas quanto à decisão do COPOM de manter os juros amanhã. O cenário de atividade econômica continua a demandar estímulos, o que justifica os juros baixos e ao mesmo tempo, a inflação reforça os sinais de força, o que evitam novas quedas.
 
Como citamos anteriormente, a maior questão no Brasil em termos de política econômica é o descompasso entre as decisões da Fazenda e do Banco Central, num bate cabeça imprevisível.
 
A mudança de comando no BC melhorou este debate, mas também elevou a sensação de que a independência também não é mais um debate crível para a instituição. Ou seja, Dilma manda mais do que nunca nas fileiras da autoridade monetária.
 
O programa econômico brasileiro se baseia na expectativa de recuperação dos EUA, ou seja, a esquerda brasileira antes torcia contra e agora torce mais do que a favor dos Yankees.
 
Alterando completamente o eixo, as recentes declarações do governo japonês demonstram que o modelo americano de crescimento econômico começa a se espalhar pelo mundo.
 
“Cresça primeiro, pague depois” é completamente discutível no longo prazo, pois imputa a gerações futuras um enorme ônus da recuperação econômica presente e a falta de originalidade das autoridades deixa isso como uma escolha dicotômica.
Ou seja, ou isso ou o modelo germânico de austeridade fiscal, mesmo que a economia esteja em frangalhos, tipo, dar remédio ao doente somente se ele melhorar.
 
Voltando à Ásia, o programa japonês de estímulo ao consumo é interessante em alguns aspectos, porém vai contra a cultura tradicional nipônica. Ninguém nunca disse que os japoneses não são consumistas. São e até acima da média, porém a diferença fundamental é no volume e tipo de gastos.
 
Numa casa média japonesa, você encontra os mais recentes produtos eletrônicos e roupas sempre novas, ou seja, produtos de valor agregado baixo e que não necessitam de acesso ao crédito para sua aquisição, ainda mais com a renda média da população.
Porém os japoneses não vivem em uma casa acima de suas possibilidades, muitos deles sequer possuem carros e quando os tem, não são sinais de ostentação.  Não há também momentos desenfreados de consumo, como em festas de fim de ano, Black Fridays ou mega liquidações. Isso ocorre normalmente no lançamento de gadgets eletrônicos e vem sendo replicado no ocidente com os produtos da Apple.
 
É isso que faz da economia japonesa o que é. Um crescimento fraco, com preços altamente estáveis, porém sem tração, semelhante ao que vem ocorrendo no Brasil.
 
A altíssima taxa de poupança do japonês é o que evita que a dívida de 230% do PIB exploda na cara do mundo e agora o governo quer que essa poupança se traduza como crescimento econômico.
 
Não creio nessa possibilidade e no caso de sinais de inflação, a dívida japonesa simplesmente não possibilita o uso de instrumentos de política monetária. Aumentar os juros, como disse um amigo ontem “não pode acontecer…never”.
O efeito seria desastroso na composição da dívida do país.
 
E qual seria a solução? Confesso que também não sei, mas com certeza deve ser “off the books”, numa nova e criativa teoria econômica, muito mais compatível com os tempos atuais.
 
Tudo evolui, até mesmo a economia.
 
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