A maior dúvida que chega a mim como economista é se estamos ou não em crise, se o mercado está comprado (bullish) ou vendido (bearish) e se vamos nos recuperar ainda este ano.
Eu odeio dar este tipo de resposta, mas infelizmente ela é: depende. Creio que nunca antes estivemos num momento econômico tão diverso no mundo, num cenário em que uma crise deflagrada por um erro crasso de ausência de instrumentos de controle ganhou dimensões nunca antes observadas.
Temos que separar em alguns pontos. Europa G8 e Zona do Euro; EUA; Japão e China; Emergentes latinos; e Brasil.
A Europa G8 começa a dar sinais mais sólidos de recuperação econômica. Reino Unido, França e Alemanha passaram por momentos ruins em 2012, mas a série de indicadores econômicos do início deste ano parece reverter muitas destas premissas. Na Alemanha, a taxa de emprego chegou ao maior nível desde a reunificação.
O índice IFO de confiança econômica também se recuperou e as perspectivas para este ano são positivas.
Já na Zona do Euro (ex. países acima), a situação é um tanto diferente. Países como Itália, Grécia e Espanha continuam com indicadores econômicos muito negativos, principalmente os de emprego e a necessidade de ajustes fiscais e de até um corte de juros por parte do BCE mostra que nem tudo são flores no velho continente e não deve mudar muito neste ano.
Os EUA passam por um momento cheio de disparidade. Os recentes resultados corporativos foram em média positivos e acima das expectativas médias dos analistas, o que demonstra uma situação não tão crítica para o fim de 2012. Apesar do tombo em 2011, o Dow Jones vem em uma trajetória de alta desde meados de 2010 e rompeu ontem os 14.000, algo somente visto no recorde de pontos de 2007.
Também os dados macroeconômicos mantém uma média positiva e reforçam as projeções de um ano superior ao anterior. Ao mesmo tempo, o país sofre a forte ameaça do “sequester”, a série de cortes de gastos obrigatórios por lei que ainda não foram evitados devido a conflitos entre democratas e republicanos; senado e câmara.
Estes cortes podem elevar o desemprego nos EUA de volta aos 8% e por a perder parte do que foi ganho até agora.
Na Ásia, apesar do déficit comercial, o Japão apresentou crescimento considerável de suas exportações. A desvalorização do Yen tem ajudado os ganhos da indústria e o índice Nikkei coleciona a maior alta em mais de quatro anos.
Analistas projetam um crescimento de 8,5% da China em 2013 e dizem que o ano passado foi o “fundo do poço” para a segunda maior economia do mundo.
Na América Latina, exportadores de commodities continuam a sofrer com o menor crescimento da Europa, porém países como Colômbia devem crescer acima de 4% no ano passado e neste ano.
O Chile mantém a mesma linha, com crescimento projetado de 4% em 2012 e 5% em 2013 e o México deve manter os 3,5% para ambos os anos.
Daí vem o Brasil. Não devemos crescer em 2012 muito mais do que 1%, com retração em agricultura e indústria, sendo salvos pelos serviços. Juros baixos e câmbio favorável não foram suficientes para melhorar o último trimestre do ano passado e o que mantém o atual panorama continua a ser o desemprego em baixa.
Mesmo com fortes altas das commodities, falhamos em captar tais resultados em nossa bolsa de valores, a qual fracassa em romper a média dos 58.000 pontos e não acompanha a reversão global das perdas em renda variável. Enquanto as bolsas de valores mundiais rompem os recordes em pontos de 2007, nos aproximamos do rompimento de um piso técnico importante.
O investimento em renda fixa continuaria atraente com juros aos 7,25% ao ano, porém o passado recente de ganhos absurdos deixou o atual panorama sem rumo e investidores ainda tentar ressuscitar os momentos de glória dos lucros mais fáceis.
O governo se perde com ações excessivamente pontuais na tentativa de reaquecer a economia e os investidores reduziram em muito da sua confiança no mercado devido às constantes intervenções em diversos setores.
Com isso, a resposta para a pergunta inicial continua muito difícil. Há uma recuperação econômica e de mercados em andamento numa parcela significativa do planeta, porém, os riscos econômicos na Europa e político/econômicos nos EUA continuam grandes e com forte potencial de tirar parte deste ritmo até agora alcançado.
Por aqui, infelizmente perdemos o “barco” do crescimento e o grande número de ações descoordenadas confundem os investidores e deixam o mercado sem ganhos significativos de volume e de novos participantes.
Há espaço esta ano para melhora no mercado financeiro em diversos ativos, porém exigem muito mais destreza, conhecimento e paciência de quem quer investir do que há poucos anos.
Assim, o Brasil deixou de ser a bola da vez e pode demorar em retomar tal posto.