Afinal, como estamos? Em termos de economia e mercado financeiro, esta é a dúvida mais pertinente do momento.
Existem tantas variáveis atualmente, que podemos gerar qualquer projeção. Assim, vamos buscar os três cenários básicos, mas com uma dose extra de ceticismo.
Otimista: Os EUA conseguirão um acordo para o Sequester e isso abrirá espaço para novos estímulos econômicos aprovados pelo congresso, os quais se refletirão ainda mais nos indicadores que atualmente demonstram uma recuperação em andamento. O movimento de maior apetite pelo prêmio de risco continuará.
A decisão da China e do Japão de também estimularem a atividade econômica acelera a demanda por commodities agrícolas e minerais, o que beneficiará as ações de empresas listadas no Ibovespa e o mercado local de bolsa finalmente consegue deslanchar.
As bolsas de valores mundiais romperão os atuais recordes de altas e as commodities como prata e ouro terão seus suportes de preços rompidos devido à menor demanda.
Com a atividade econômica mais acelerada, políticas de forte injeção de liquidez começam a ser seriamente questionadas, porém sem gerar estresse entre os investidores. A perspectiva de maior inflação se eleva e ao mesmo tempo, a de maiores juros. Isso incrementa a demanda por alguns títulos governamentais, mesmo num cenário de apetite ao risco em alta.
Na Europa, o novo governo italiano se mostra sensível às questões fiscais e não altera de maneira exagerada os planos postos até agora em ação. Os países envolvidos na crise de 2010/2011 continuam com crescimento econômico fraco, porém com perspectivas mais concretas de uma recuperação em 2014, devido ao cenário global mais favorável.
O índice de desemprego em diversos países se reduz a cada mês, o que reinsere uma parcela cada vez maior de consumidores na engrenagem econômica e eleva as projeções de crescimento econômico não só para 2013, mas para 2014 também.
Tudo muito lindo, tudo muito perfeito e tudo muito desejável, porém sabemos que a coisa não funciona bem assim. Mas para deixarmos a coisa justa, vamos ao cenário inverso.
Pessimista: Nos EUA, a falta de acordo para o sequester começa a afetar áreas sensíveis do governo, principalmente entre as forças armadas e a falta de investimento em alguns setores que recebiam uma parcela significativa dos investimentos do governo eleva o desemprego acima dos 8% rapidamente.
Isso se reflete na atividade econômica e os ganhos até agora ocorridos no mercado imobiliário, no setor automotivo e no consumo começam a se esvair e as projeções de crescimento do PIB americano se revertem a números abaixo de 2% ao ano.
Com os EUA desacelerado, o plano japonês de estímulo também ‘patina’, mesmo assim, os investidores se voltam novamente ao Yen como ‘porto seguro’, o que gera um ataque especulativo à divida e corrói os ganhos já minguados dos exportadores nipônicos.
A China também perde neste processo e o controle da bolha imobiliária falha, elevando o temor global de seu estouro e ao mesmo tempo, a volatilidade em praticamente todos os ativos de mercado financeiro.
Crescem as dificuldades de financiamento, mesmo com os juros baixos e os governos criam pacotes para forçar as instituições financeiras a terem critérios menos rígidos na concessão de empréstimos.
No Brasil, o Ibovespa perde seus suportes e rompe os 50.000 pontos e a fuga da renda variável se reforça com os investidores nacionais. O desemprego volta a crescer e o PIB que já havia apresentado um fraco resultado em 2012 apresenta resultado negativo neste ano.
Mesmo com a atividade econômica fraca, a inflação continua a subir devido à quebra de safra em diversos países, causando elevação dos preços de commodities agrícolas. Mesmo com a economia fraca, o governo se ve forçado a elevar os juros, o que incrementa ainda mais a fuga das bolsas de valores.
Na Europa, o novo governo italiano reverte todas as reformas fiscais e o fluxo de capitais de ajuda ao país é interrompido. Ao mesmo tempo, Grécia, Espanha e Portugal declaram incapacidade de pagar suas dívidas devido à ao alto desemprego e atividade econômica desacelerada, assim todos declaram moratória.
A volatilidade cresce em níveis alarmantes e o índice VIX rompe os níveis de outubro de 2008. Os governos se reúnem para tentar buscar uma solução e muitos já declaram este momento como o segundo mergulho recessivo.
Este seria o pior dos casos, do pior dos casos. Infelizmente, ele não está com uma probabilidade baixa o suficiente para não ser temido, ainda assim, é o cenário de desgraça.
Agora, vamos colocar um cenário centralizado, baseado nas projeções médias dos analistas e nas perspectivas dos governos.
Intermediário: Neste cenário, os EUA buscam uma alternativa à questão do sequester, onde parte dos cortes tende a ser equacionado por estímulos. O Federal Reserve continua a monitorar a frágil recuperação da economia, agora sob a égide de enfraquecimento de alguns setores.
Alguns programas são direcionados a aliviar o efeito dos cortes dos gastos e isso reduz seu impacto no PIB. Indicadores do mercado de trabalho sofrem inicialmente, mas retomam a recuperação no segundo trimestre.
Os mercados imobiliário e automotivo continuam a adicionar força à retomada da atividade econômica americana e o Fed deixa de sinalizar o fim do QE3 em 2013, mesmo que abra a possibilidade no próximo ano.
Ao mesmo tempo em que controla o mercado imobiliário, a China estimula vários setores da economia e seu crescimento pode superar os 7% neste ano. Mesmo assim, as dificuldades continuarão na segunda maior economia do mundo.
O Japão incrementa seu programa de estímulo econômico no modelo americano, para elevar a inflação em níveis compatíveis com uma maior atividade econômica, mas deve tomar muito cuidado para evitar a necessidade de elevação dos juros, o que poderia prejudicar o país, dada a enorme quantidade de títulos soberanos em circulação.
Na Itália, o novo governo fez a bravata para conseguir a eleição, porém ‘pisa em ovos’ com a questão fiscal e evita qualquer movimento drástico. Os países envolvidos na crise europeia de 2010/2011 continuam com sua atividade econômica fraca, porém em níveis mais estabilizados e podem se beneficiar do crescimento mundial.
Por aqui, o crescimento econômico deve ficar em torno de 2,0% a 2,2% e o desemprego se mantém em níveis baixos, o que evita uma derrocada da economia. O governo deve tentar novas medidas pontuais de estímulo, sem grande sucesso e por mais um ano, cresceremos muito abaixo da média dos países emergentes.
Os juros devem se elevar até 9,5% ao ano, o que mantém em baixa a atratividade pela renda fixa. As commodities devem ter seus preços estabilizados e o clima ajuda na queda de algumas agrícolas, o que evita uma explosão inflacionária, que deve se concentrar principalmente em serviços.
Mesmo assim, as empresas do Ibov continuam com baixa atratividade e o índice não deve romper os 63.000 pontos ainda este ano.
Esta aí, deixo para os leitores quantificarem o peso para cada cenário, pois mesmo em seus extremos, todos tem elementos completamente passíveis de ocorrerem.