“O desenvolvimento desequilibrado, descoordenado e insustentável continua a ser um problema proeminente”. – Wen Jibao, ex- Primeiro Ministro (05/03/13).
Se fosse um analista de mercado, um economista ou um gestor pop-star a frase mereceria atenção, e talvez fosse um trader vira-lata como este escriba de domingo a dizer tal “asneira” mereceria boas risadas durante a pizza, e talvez o Jason nem deixaria o texto ser publicado.
Mas temos um problema, caro amigo do moneyou.com.br, pois a frase é de alguém insuspeito no tema e, mais ainda, “insider” por assim dizer. Incrível como deu-se pouca atenção a tal frase.
Antes de seguir com o tema eu me pergunto como seria se algum outro governante a deixar o poder, ou no exercício do mesmo, fizesse uso da mesma sinceridade? Eu confesso que sou naïve.
Ah, para quem quiser ir direto às fontes, por favor leia:
- James Saft (Reuters columnist) – “The Limits of China’s long Surge”; International Herald Tribune – 06/março/13 – pág20
- Claudia Trevisan – “China define 7,5% como meta de alta do PIB”; Estado de São Paulo – pág. B1 – 06/março/13
- Martin Wolf (FT – Valor) – “Por que a China pode desacelerar”– pág A15 (Valor) – 3/abril/13
- David Barboza – “Tax has Chinese couples feigning divorce”; International Herald Tribune – 09/março/13 – pág.12.
A China anunciou o aumento do consumo interno como direção para o crescimento do país e redução da dependência do modelo exportador e também do modelo pautado no forte desempenho e crescimento dos investimentos fixos.
Anunciou também a meta de 7,5% para o crescimento do PIB em 2013, e para isto vão-se aumentar os gastos públicos e o déficit irá de 1,6% para 2% do PIB. Ao mesmo tempo – aí começa o problema – o governo vem tomando medidas para esfriar o mercado imobiliário e demonstra preocupação com a inflação, embora esta venha desacelerando.
A meta anunciada, assim como o crescimento de 2012, está dentro do planejamento estipulado no Plano Qüinqüenal (2011-2015), que é de 7%.
Por outro lado, seu comércio exterior está em uma curva de crescimento em desaceleração, pois vem de 22,5% em 2011 para 6,2% 2012 frente ao esperado de 10%. O governo enxerga um cenário mundial mais protecionista para suas exportações.
O problema chinês não parece residir aí, mas sim no descomunal excesso (redundante) de capacidade produtiva, de investimento em ativo fixo (50% do PIB – cresceu a taxas de 13,5% a.a. entre 2002/2011), e a “bolha imobiliária”. Ou seja, eles têm um excesso produtivo investido esperando por utilização e a cada centavo investido hoje menor é seu retorno uma vez que este cresce à frente do consumo e sua utilização. A questão é como utilizar esta capacidade, rentabilizá-la para fazê-la pagar seu financiamento e trazer sua curva de crescimento a um patamar civilizado sem causar estragos.
Segundo o FMI, por exemplo, uma queda no crescimento anual do investimento em ativos fixos Chinês de 13,5% do PIB para 4,5% traria uma impacto proporcional ao PIB de países periféricos na Ásia como Taiwan, Coréia, Malásia. Imagine como ficariam as boas commodities.
Há também uma questão muito séria e intrigante. Os amigos do moneyou.com.br já ouviram falar ou leram sobre o “shadow-banking Chinês”?? Pois é, ele existe e é enorme, e com capacidade de transformar-se em “arma de destruição em massa”. Ele é um sistema financeiro nas sombras. Isto mesmo, literalmente.
E parece ter ligações quase umbilicais com o sistema tradicional. Ele gera empréstimos por volta de 35% a 40% do PIB!!!!! Imagina como será mexer neste vespeiro. De onde imaginava-se que vinha tanto $$$ para financiar o investimento fixo apesar de medidas governamentais para conter o mesmo e para desacelerar o mercado imobiliário??
O shadow-banking leva-nos a pensar na sustentabilidade da dívida privada assim como nas dívidas de províncias e cidades. Para efeito de curiosidade: há uma cidade nos cafundós do país que construiu um estádio de futebol (de Copa) e não tem time; há uma província (não sei o nome) que construiu uma capital inteiramente nova e com direito até a um Museu de Arte!! Ei, é tudo novo e a cidade velha ficou ali ao lado e … segue funcionando como se a nova (fantasma) não existisse!!!!! Acho que os espanhóis sabem o que deve ser isto, cidades fantasmas…
CONTINUA NA PARTE 2