A novidade do momento é a “agenda positiva”. Dilma chamou Tombini para conversar e “afinar o tom” para que o presidente do BC vá a Davos com o discurso de conquistas econômicas e uma agenda positiva para o Brasil.
Devo confessar a minha aversão ao governo, muito pelo partido que o comanda, mas tenho passado por uma desilusão total com a classe política brasileira. Com isso em mente, consigo analisar mais friamente o atual governo.
Digo e repito, Dilma fez mais em dois anos do que Lula no seu mandato inteiro. Lula gerou avanços assistencialistas no Brasil e um dos seus maiores atributos foi exatamente a continuidade irrestrita dos programas econômicos da gestão FHC.
Porém, Lula deixou de endereçar todas as “cascas grossas” que Dilma teve a coragem de tocar, entre elas a alteração do indexador da poupança para assim permitir uma queda mais acentuada dos juros. Dilma também (e aparentemente) tem se deixado levar menos por questões politicas.
Porém, a presidente é tem cometido alguns erros, infelizmente perdoáveis dada a situação brasileira. Tudo tem sido feito de atropelo, desde o corte de juros bancários até a redução da tarifa de luz. A alteração do comando da Petrobrás também é positiva, mas os investidores não sentiram isso nas ações da empresa.
Existe o certo e o errado e no Brasil há um meio termo para cada lado. Se as tarifas bancárias e o spread são altos, é porque o governo se financiou anos e anos nesta ciranda. Se as tarifas de luz são altas, é porque o governo permitiu isso e não reviu no momento de renovação de concessões.
Isso se repete nos pedágios, na telefonia e em outras diversas situações. Sabemos que as coisas no Brasil são caras e boa parte da culpa disso é dum “mix” da anuência do governo, uma lucratividade absurda das empresas, juros altos, impostos e uma dose exagerada de falta de vergonha coletiva, desde quem fornece os bens e serviços até o consumidor que se presta a paga-los.
Portanto, existem distorções grandes e o governo faz parte da culpa. Ao corrigir isso, o processo deveria ser um pouco menos atropelado, para dar tempo das empresas se adaptarem às novas realidades e o governo implantar as novas mudanças com todos seus parâmetros ajustados.
Todavia, a ida de Tombini a Davos (Tombini, e não o Butters, UFA!) busca uma resposta às diversas críticas de meios de imprensa internacionais, os quais citam desde a incompetência econômica de Butters, até o possível fim do sistema de metas de inflação.
O governo ficou genuinamente irritado com as notícias e busca agora uma resposta à altura. Na “agenda positiva” de Tombini, o corte na tarifa de luz compensa de longe a elevação nos preços da gasolina. BZZZZZZZZZZZ!! Não é bem assim. O corte da luz ajuda, porém falamos de um corte contra uma possível série de aumentos de combustível e sabemos que em muitos casos, se gasta mais enchendo UM TANQUE de gasolina do que se gasta de luz num mês inteiro. Em resumo, gasolina muitas vezes pesa mais no orçamento do que luz.
O governo diz que a safra será boa e isso forçará uma queda no preço dos alimentos. BZZZZZZZZZZZ!! Não é bem assim, de novo. O estoque mundial de alimentos está realmente limitado, há diversas quebras importantes de safra e a pressão de preços é generalizada. O Brasil é um grande produtor mundial e nossa pauta de exportações tem enorme peso agrícola, além disso, a média de preços é global e não local, principalmente de commodities.
Podemos até produzir mais, mas isso não significa que a oferta interna vai “puxar pra baixo” os preços na medida em que o governo quer.
O governo diz que o Brasil se preparou para crescer este ano. BZZZZZZZZZZZ!! Não é bem assim. O Brasil tem se preparado para crescer desde a crise, mas fora 2010, as políticas econômicas simplesmente fracassaram, por se concentrar demais em medidas setoriais e pontuais e de consumo de produtos de valor agregado alto, com forte viés endividador.
Além disso, bate-se de novo na tecla do pré-sal como salvador da economia brasileira e quem comprou essa história no lançamento de ações da Petrobrás, se arrepende até agora.
Digo e repito, pautamos nossa política econômica na possibilidade de recuperação da economia americana, até mesmo de sua safra e sem isso, dificilmente atingiremos quaisquer metas em 2013.