Num bate papo informal com alguns amigos de mercado nesta sexta-feira num bar, muitas teorias se formaram sobre o porquê do atual rally das bolsas de valores internacionais, da patinada da bolsa local e do futuro da economia mundial.
Neste painel etílico e improvisado, surgiu quase que uma unanimidade: a bolsa americana sobe por causa do dinheiro do Fed. Neste momento, fui obrigado a discordar da opinião pseudo-uníssona da mesa e por alguns motivos.
A bolsa de valores americana não sobe por causa do dinheiro do Fed. Se fosse por isso, as principais ganhadoras dos índices seriam as ações dos bancos e isso está longe de ser verdade.
A bolsa nos EUA sobe por causa dos balanços positivos e dividendos das empresas, conseqüência da política expansionista do Fed, que tem dado resultado em diversos setores, claramente visto nos indicadores de mercado de trabalho, com queda no desemprego e criação de 236.000 mil vagas só no último mês.
“Simples” assim. Então é por causa do dinheiro do Fed!! NÃO de novo! Isso se torna claro quando vemos as ações do Google subirem enquanto as da Apple caem. A falta de opções rentáveis em renda fixa é a explicação mais simplista para a elevação do apetite do prêmio de maior risco.
Os investidores anteciparam parte desta reação econômica e por isso veem no mercado acionário o lugar ideal para a alocação de recursos. A falta de opções em renda fixa explica uma parte da migração dos recursos.
Isso seria verdade se no Brasil a queda de juros forçasse à migração dos investidores para o Ibovespa e estamos vendo quase que uma reação de bens de Giffen. Quanto mais caem os juros, mais os investidores pouco informados procuram a poupança.
O que melhor exemplifica este cenário é a queda do preço internacional do ouro e da prata. Ambos foram símbolos da busca pela segurança nos investimentos em 2011 e parte de 2012, porém a queda de valor destes metais tem sido contínua desde outubro do ano passado, exatamente quando a série de indicadores econômicos mostrou um período longo o suficiente para apontar para uma recuperação econômica.
Continuo a alertar a todos que o crescimento econômico continua frágil e repleto de “pedras no caminho” e tais resultados são partes de uma lenta e longa lembrança do que foram os eventos de 2012. Mesmo assim, são indicadores positivos.
Obviamente, todo rally necessita de uma correção e quando mais as altas perdurarem, mais severa pode ser a realização de lucros. Gatilhos para a sua ocorrência é que não faltam, mas neste momento, a preferência dos investidores americanos é claramente o Made in USA.
Daí vem parte da explicação do por que a bolsa aqui não deslancha. Para facilitar, relembro aqui meu artigo de 04 de fevereiro, “A Bovespa não ‘anda’, simplesmente”, onde ainda conseguimos comprovar a teoria do preço médio de 58.000 pontos do Ibovespa.
O futuro continua uma incógnita e novamente aqui já desfiamos sobre os possíveis cenários, mas uma coisa é certa. Devemos perder essa visão dicotômica dos investimentos, pois nem sempre os investidores migram do risco para a segurança (e vice-versa) e na maioria das vezes, o dinheiro estatal injetado diretamente em alguns agentes econômicos é muito menos eficaz do que a injeção de liquidez no sistema como um todo.
Boa semana a todos.