Agora que tenho sua atenção, vamos discutir a realidade. Já citei efusivamente (1,2,3,4,5) aqui os motivos pelos quais a Bovespa anda em passos de siri e o porquê da manutenção neste estado e agora vamos adicionar alguns elementos a esta receita.
Mesmo com o recente ânimo pela pseudorreação do Ibovespa, estamos profundamente longe dos melhores momentos deste ano. Sim, deste ano, pois uma reação do mercado ao final do ano passado levou o índice aos meros 63.311 pontos e nada mais.
Desde então, nos aproximamos do fundo do poço dos 52.500 pontos recentemente e passamos pelo repique atual, totalmente explicado em termos gráficos.
Todavia, onde estão os tais 70.000 pontos? Simplesmente não estão e essa é a decepção do cenário. Em um ano, a perda ultrapassa os 10%, com piora significativa no acumulado de 2013. As empresas do grupo EBX continuam a influenciar o índice, seja para o bem ou para o mal.
A OGX, principalmente, vale um nono do seu valor no mesmo período do ano passado e notícias desencontradas de ajuda do governo, possível necessidade de um sócio para cumprir com as obrigações e um grande número de operações vendidas das ações tem arrastado o papel para uma faixa que mal consegue romper os R$ 2,00.
Analisando o aspecto macroeconômico, continuamos a “eterna luta com os galhos”. O governo agora faz uma nova contabilidade mágica, onde inclui em suas expectativas de receitas e gastos uma série de recursos que dependem de um cenário de crescimento econômico que nem mesmo o ele tem tido fé.
A alta recente da indústria, após o revés do penúltimo indicador muito negativo demonstra a realidade de um desaquecimento ainda em voga e como estamos passados de um terço do ano, as perspectivas para 2013 continuam fracas, ou seja, atingirão em cheio o PIB.
As exportações seguem na mesma linha, com as vendas externas em franca descompressão, em partes devido à ainda frágil situação na Europa e a um processo de reindustrialização de alguns países chave no mundo, principalmente os EUA.
Isso é outra questão importante que tende a afetar os países como o Brasil, os quais em partes falharão em entregar um crescimento digno do crachá de “emergente”. A crise de 2008 expos uma série de problemas antes deixados de lado no mundo, como a regulação do sistema financeiro em diversos países, o peso do custo dos sindicatos e uma quebra na até então interdependência da globalização.
No cenário corporativo, o símbolo mais emblemático foi a General Motors. Os sindicatos nos EUA simplesmente se recusaram a quaisquer acordos que pudessem significar a perda de ganhos trabalhistas durante os últimos anos. O problema é que a GM estava tão benéfica aos seus trabalhadores que o seu sistema previdenciário necessitava de um trabalhador contribuindo para sustentar um aposentado.
A série de benefícios também era incomparável a qualquer outra empresa e tornou a situação insustentável num momento em que a economia não contribuiu para o fluxo de caixa e os rendimentos no momento sequer pagavam a folha, quanto menos os benefícios.
A falta de acordo quebrou a empresa e o sindicato metaforicamente repetiu uma frase do Chaves “Prefiro morrer a perder a vida”, ou seja, prefere a empresa quebrada a perder as conquistas sindicais. A Hostess, fabricante de diversos doces, entre eles o Twinkie, que tem seu equivalente brasileiro ao “Ana Maria” quebrou exatamente neste sentido.
Nenhuma negociação sindical funcionou e mesmo perdendo TUDO, o sindicato levou em diante a quebra da empresa. Qual o sentido? Nenhum, pois sem empresa, não existem empregos, benefícios ou planos de aposentadoria.
Mas isso teve outro lado. O enfraquecimento sindical reduziu os custos para o retorno das linhas de montagem aos EUA. Obviamente, um trabalhador americano não vai custar o mesmo que um chinês, porém se incluirmos os custos de frete, o crescimento do número de vantagens dadas pelos estados para reativação de plantas e o acrescimento de mais um consumidor na engrenagem econômica, o custo de produção local pode se tornar interessante.
A conta atual é a seguinte: se montar nos EUA me acrescer em custo até 20%, vale a pena. Com isso, alguns estados tem reaquecido o emprego de manufatura e o resultado se mostra mais claro no payroll, o qual deixou de mostrar números negativos nesta área há alguns meses seguidos.
E o que isso tudo tem a ver com os 70.000 pontos do Ibovespa? TUDO, pois as bolsas de valores são compostas por empresas que dependem diretamente do crescimento econômico e para o Brasil a situação não parece muito boa e tende a piorar, caso o cenário acima se concretize com mais força.
Sou o chato da reforma tributária e repito, sem uma séria neste país, continuaremos a lutar contra um inimigo oculto nas inflações, no câmbio, nos incentivos pontuais de perdas de receita do governo, na crise internacional e deixaremos de ver que temos um sério problema de desmando com recursos públicos e de baixa competitividade no setor privado.
E você aí comemorando a vitória do seu time ontem, ou chorando pela derrota, hein!!!