É impressionante como às vezes as notícias se tornam “chapa-branca” nesse país. O crescimento de 2,5% da produção industrial, depois da indústria ter sido uma das responsáveis pelo PIB do ano passado agora é chamado de “momento de virada na economia”.
Na TV hoje vi repórteres encherem a boca e sorrirem ao dizer que este é o sinal da recuperação. Peraí, de todos meus anos como economista e desde minha faculdade, eu já sabia que um sinal de reversão de tendência necessita ao menos uma série de três indicadores consecutivos, principalmente depois de um ano de perdas acentuadas.
Assisti até economista dar entrevista e confirmar a “virada”. BESTEIRA, ninguém sabe nada ainda. Não estou advogando pelo pessimismo ou por qualquer outra vertente, mas simplesmente UMA andorinha não faz verão.
Lembro-me bem nos anos 80, quando meu pai economista não atuante (sempre operou no mercado financeiro) dizia que no Brasil, economista tinha a mesma fama de meteorologista, ou seja, não acertava nada.
Inclusive o Jô Soares em uma das suas primeiras entrevistas com Vilfrejo Schurmann, da família que cruzou o mundo em um veleiro, fez uma piada sobre isso. Foi algo mais ou menos assim:
“Schurmann: Tem muita coisa que eu ainda não entendo do mar, mesmo com toda a experiência”.
“Jô Soares: Qual sua formação?”
“Schurmann: Eu sou economista”
“Jô Soares: Tá vendo, então é por isso que não entende nada”.
Naquele momento, devido à sucessão de erros, principalmente no controle da inflação, a profissão realmente estava em baixa, apesar de sua importância. Porém, acima de tudo, o economista deve manter o senso crítico.
Endossar uma visão rasa de um indicador só faz com que seja necessária uma correção posterior de algo que simplesmente não aconteceu. A recuperação da produção industrial não está completa, pois em termos absolutos, o setor cai 1,9% e mais uma vez, dependemos da indústria automobilista para entregarmos o mínimo de performance.
O sinal mais positivo de todos foi a elevação dos bens de capital, o que demonstra um leve retorno da taxa de investimento, porém só teremos certeza absoluta a partir dos dados fechados de março.
Com o desemprego em baixa, a economia brasileira passar por uma leve “niponização”, ou seja, baixo crescimento, porém com renda que sustenta o mínimo do emprego. Porém este é um cenário longe do ideal ao considerarmos a média de crescimento de países emergentes.
Ou seja, somos um país emergente, com necessidades de país de terceiro mundo, com crescimento de país de primeiro mundo. Uma coisa simplesmente não combina com a outra.
Batendo naquela velha, cansativa e quase quebrada tecla, enquanto este governo não resolver as grandes questões brasileiras e insistir em medidas pontuais, ou seja, colocar um band-aid num corte de facão continuaremos a discutir aqui as mesmas questões.
Bom dia a todos e atenção à agenda de hoje.