Lembrando o símbolo do humor Britânico, usamos como temas os esquetes do grupo Monty Python Flying Circus para ilustrar os eventos, alguns bastante absurdos, do BREXIT, o referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia.

Cap.1 – A União Europeia ou “O que têm os romanos já fizeram por nós?”

Em primeiro lugar, vamos explicar (ou tentar) o que é a União Europeia. Ela começou como um sonho do pós-Segunda Guerra Mundial para evitar os eventos que levaram às guerras anteriores, criando uma comunidade forte e unida, através da partilha de leis ordinárias, regulamentações, mercado livre e fronteiras abertas.

Começou como acordo supranacional assinado em 1951 pela Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Holanda e Alemanha Ocidental, conhecida como a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. A CECA entrou para a Comunidade Econômica Europeia e a Comunidade Europeia de Energia Atômica em 1957 e em 1967, todas as instituições se fundiram apenas como a Comunidade Econômica Europeia (CEE), com o estabelecimento de várias tarifas comerciais e níveis de preços comuns para os produtos agrícolas.

A CEE foi o primeiro embrião do que viria a ser a União Europeia (UE)

A CEE foi o primeiro embrião do que viria a ser a União Europeia (UE), mas ainda os regulamentos, leis, acordos de livre comércio e leis de imigração estavam prestes a serem formados, com uma assembleia parlamentar e vários tribunais comuns. No entanto, o Reino Unido ainda estava fora.

Em 1961, Reino Unido, Dinamarca, Irlanda e Noruega requisitaram filiação à comunidade em formação, mas o presidente francês De Gaulle não podia suportar a presença britânica, primeiramente como força de equilíbrio contra a França, mas também como uma influência americana em solo europeu, deste modo a França vetou à filiação, o que suspendeu os pedidos dos quatro países.

A conclusão processo levou mais de 10 anos, com a retomada do pedido em 1967 após o novo presidente francês Georges Pompidou derrubar o veto. Após vários acordos comerciais (principalmente agrícolas), o Reino Unido, a Dinamarca e a Irlanda aderiram à CE efetivamente em janeiro de 1973.

Vários países aderiram à CE no que primeiro foi conhecido como Tratado da União Europeia (TUE) e, em seguida Tratado de Maastricht, sendo a primeira tentativa real para criar um mercado comum em pleno funcionamento, com fronteiras abertas e regulamentos comerciais claros para os membros. Tudo começou em novembro de 1993, quando também foi definida a moeda única europeia, o Euro.

A União Europeia, tal como a conhecemos hoje, teve suas alterações e conclusões finais muito recentemente em 2007, no Tratado de Lisboa (conhecido como o Tratado Reformador), com os seguintes membros:

Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha, Polónia, Roménia, Holanda, Grécia, Portugal, Bélgica, República Checa, Hungria, Suécia, Áustria, Bulgária, Dinamarca, Eslováquia, Finlândia, Irlanda, Lituânia, Letónia, Estónia, Chipre, Eslovénia, Luxemburgo e Malta, por ordem de assentos de voto no Parlamento Europeu.

No entanto, nem tudo foi calmo como uma brisa. O Reino Unido e a Polônia pressionaram para adicionar um protocolo à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, para esclarecer que o tratado não se estenderia aos direitos dos tribunais para anular as leis domésticas da Grã-Bretanha ou da Polônia. Durante o Tratado de Maastricht, o Reino Unido também se absteve em adotar o euro.

Mais tarde, várias propostas ocorreram para assegurar a entrada do Reino Unido na Zona do Euro, mas com cinco testes econômicos (1) em 1997, o Tesouro do Reino Unido decidiu que não havia nem suficiente convergência com o resto da UE, nem suficiente flexibilidade para justificar uma entrada na moeda comum.

O Tesouro do Reino Unido decidiu que não havia nem suficiente convergência ou suficiente flexibilidade para justificar uma entrada em moeda comum.

Mesmo assim, o Reino Unido, juntamente com a Alemanha e a França, gozaram de longos períodos de prosperidade econômica na UE, bem como o mais longo período de paz na região. Entretanto, como toda união, o compartilhamento da prosperidade vem na mesma proporção da partilha de dificuldades. É exatamente o que aconteceu durante a crise do Subprime.

A proposta de adoção do Euro pelo Reino Unido foi completamente descartada após a crise financeira de 2008, quando o Banco Central Europeu falhou em agir de forma eficaz e aprofundou seus efeitos, com maior tempo de recessão e aumento do desemprego, eventos econômicos não tão graves no Reino Unido como no resto da UE.

Portanto, isso nos leva ao próximo tópico.

Cap. 2 – Origens do BREXIT ou “Ninguém está a espera da Inquisição Espanhola!”

A crise financeira de 2008 mostrou os malefícios de um problema “grupal”. As nações ricas, ou com melhores ajustes fiscais e governos com déficits primários reduzidos (isto é, Reino Unido, Alemanha, Holanda e alguns países nórdicos) não sofreram o mesmo impacto que países menos rigorosos (ou responsáveis) em termos fiscais, tais como Grécia, Espanha e Portugal.

Esta assim chamada irresponsabilidade fiscal não foi bem vista pelos membros da Zona do Euro e da UE e o fato de que eles poderiam ser obrigados a socorrer países menos ricos suscitou dúvidas no Reino Unido sobre as vantagens de estar em uma “União”.

Socorrer países menos ricos suscitou dúvidas no Reino Unido sobre as vantagens de estar em uma “União”.

Como o desemprego aumentou e a nova União Europeia tornou fácil a imigração entre os seus membros, muitos britânicos não apreciaram a nova “onda de invasão” dos trabalhadores europeus para o Reino Unido, assim como aconteceu em meados dos anos 2000, quando o países ex-comunistas e mais pobres aderiram à UE.

O Reino Unido também é um alvo mais fácil para os trabalhadores expatriados do que a Alemanha, a França ou países nórdicos, pois os europeus falam com facilidade Inglês como segunda língua. Isso elevou significativamente a tensão sobre a imigração nos últimos anos e devido à recuperação econômica “em andamento” desde 2008 e as últimas pesquisas mostram que 45% dos britânicos identificam a imigração / raça como uma preocupação, assim como 77% acreditam que os níveis de imigração no Reino Unido devam ser reduzidos.

No entanto, a questão em si começou principalmente com base na economia. O primeiro-ministro David Cameron prometeu analisar os termos de todo o acordo com a UE devido às fortes demandas internas dos britânicos e a imigração estava entre estes termos. Vamos mostrar em um tópico separado que, apesar das reivindicações sobre a economia, a campanha Brexit foi fortemente baseada em critérios de migração / populismo.

A campanha pelo Brexit foi fortemente baseada em critérios de migração / populismo.

As demandas por melhores acordos ficaram mais fortes após a crise do subprime e também durante o encontro de verão da OTAN em 2012, quando o primeiro-ministro David Cameron buscou aumentar sua influência sob o Partido Conservador, discutindo abertamente a ideia de um referendo da União Europeia, não obstante sua oposição à saída do Reino Unido.

Em 2013, no entanto, Cameron prometeu se o Partido Conservador ganhasse a maioria dos assentos na eleição de 2015, o governo iria, antes da realização do referendo, negociar um regime mais favorável de comércio, de migração e de leis para o Reino Unido para permanecer como membro da EU, o que foi seguido por um primeiro esboço do Brexit.

A disputa política manteve o referendo no centro das atenções entre 2013-15 e depois de ganhar a maioria dos assentos no Parlamento em 2015, Cameron prometeu realiza-lo, mas só depois da “negociação de um novo acordo para a Grã-Bretanha na União Europeia”, de acordo com o Manifesto do Partido Conservador.

As exigências foram:

  • Novos acordos de livre comércio e uma menor burocracia para as empresas;
  • Maior força para Estados-membros individualmente e menos para Bruxelas;
  • Erradicar a noção de “união cada vez mais estreita”;
  • Reforço dos controles de imigração, especialmente para novos membros da UE, bem como regras de imigração mais rígidas para os atuais cidadãos do bloco;
  • Novos poderes para os parlamentos locais para vetar coletivamente novas leis propostas pela UE;
  • Menos influência do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos na polícia e nos tribunais do Reino Unido.

Como resultado, em novembro de 2014, os pedidos foram atualizados para:

  • Reconhecimento oficial que as leis da Zona do Euro não se aplicam necessariamente a não-membros da moeda única e que estes não teriam de socorrer as economias da Zona do Euro em dificuldades;
  • Expansão do mercado individual e definição de uma meta para a redução da burocracia para as empresas;
  • O Reino Unido deve ser legalmente isento da noção de “união cada vez mais estreita”;
  • Parlamentos locais devem ser capazes de vetar coletivamente propostas de leis da UE;
  • Cidadãos da UE que vão trabalhar no Reino Unido não podem reivindicar habitação social ou prestações associadas ao trabalho até que tenham trabalhado lá por quatro anos no total e que sejam incapazes de enviar pagamentos de benefícios para filhos para o exterior.

O resultado e o timing da negociação não foram suficientemente atrativos para os britânicos e o processo político para o referendo continuou, confirmado em ambos os Referendos da União Europeia nos Atos de 2015/2016, aprovados no Parlamento, quando Cameron planejava realiza-lo em outubro deste ano.

 A primeira crítica sobre o referendo, além do conjunto de demandas, foi a data. Muitos críticos acreditavam que o tempo, próximo à uma eleição e em um prazo muito curto não seria suficiente para que os eleitores compreendessem plenamente as consequências do Brexit e que a primeira proposta para votar por volta de 2017 seria melhor para tais considerações.

No entanto, em fevereiro de 2016, Cameron declarou que o Governo recomendaria que Reino Unido devesse permanecer na UE e que o referendo se realizaria em 23 de junho, marcando o lançamento oficial da campanha.

No curto período da campanha, os dois lados mostraram razões racionais e importantes para a saída do Reino Unido, assim como uma cruzada extremamente populista e de baixo nível pelo Brexit. Vamos mostrar primeiro o lado racional da disputa. No final, tudo foi primordialmente uma ideia de David Cameron.

Cap. 3 – Dois lados de uma libra ou “A Clínica de Discussão”

Propostas coerentes e críticas vieram de ambos os lados. Para aqueles aconselhando a saída, a União Europeia é contaminada por regulações excessivas e até mesmo “tolas”. Muitas destas são arrogantemente decididas no Parlamento Europeu a serem rigorosamente seguidas pelos seus membros, que é visto por muitos britânicos como irresponsável e antidemocrático.

O Reino Unido, apesar do estado de bem-estar (Welfare State) bastante desenvolvido, tornou-se uma economia altamente liberal durante os anos Thatcher, que fez de Londres a capital financeira do mundo por um período, superando Nova York.

O Reino Unido tornou-se uma economia altamente liberal durante os anos Thatcher

Em certo sentido, existe o contraste entre o Reino Unido e a UE, a qual vem de uma base majoritariamente francesa, o que resultou em regulamentos econômicos pesados e controles de migração considerados frouxos. A burocracia também foi amplamente criticada, pois os regulamentos de negócios no Reino Unido estão muito mais próximos aos observados nos EUA. Todavia o país deve obedecer, na maioria das vezes, regulamentos determinados pela autoridade não eleita da UE.

Os custos para operar na UE também se tornaram alvo de críticas, mas isso vai contra a noção de que, ao deixar o bloco, impostos sobre o comércio iriam começar a ser aplicados, tornando-o mais onerosos para os ambos lados.

Analisando os pontos de vista acima e muitos outros, existem obviamente boas razões para a insatisfação britânica e a falta de sucesso para finalizar os termos das negociações com UE acirrou os ânimos, no que deveria permanecer sempre como um debate técnico.

Por outro lado, as razões para permanecer também eram muitas.

Os britânicos aproveitaram longos períodos de prosperidade econômica dentro do bloco ao acessar livremente mercados importantes

Apesar de vários dos problemas mencionados anteriormente, parcialmente negociáveis com a UE, os britânicos se aproveitaram de longos períodos de prosperidade econômica dentro do bloco ao acessar livremente mercados importantes. O Reino Unido e a Alemanha amadureceram um relacionamento comercial e industrial de longo prazo, onde os britânicos adquirem bens intermediários e de capital de alto valor agregado e tecnológico para empresas como a Rolls-Royce, assim como tecnologia para estradas de ferro, só para citar alguns exemplos.

Isso estende-se a outros países, considerando que a UE responde a 48% do total das exportações britânicas e 47% das importações, de acordo com os últimos dados da UK Trade Info. (2)

No caso do Brexit, todos os acordos comerciais caem por terra e o Reino Unido deve retomar tratados individuais com cada membro e alguns deles, como a França, não estão dispostos a apoiar qualquer coisa que poderia estimular outros países a seguir os passos britânicos.

Durante os anos dourados da UE, muitas empresas e bancos mudaram suas sedes para Londres, considerando-se a melhor regulamentação, custos, língua e acordos. A Bolsa de Londres também pode sofrer, pois muitas empresas europeias lá estão listados pela mesma razão.

3-1 – O problema dos vistos “estrangeiros” ou “Ninguém Passará!!!”

Não só o país pode perder uma parcela importante da força de trabalho em muitos setores, como os britânicos também teriam que se preocupar com vistos e regras de residência.

Parcialmente devido às crises recentes, as taxas de juros zero e preços em queda livre, os britânicos tornaram-se os compradores mais ativos de imóveis em diversas regiões do sul da Espanha, partes da Itália e da Grécia.

Estas seriam razões suficientes para considerar a saída um erro, pelo menos, sem maiores esforços para rever os termos do pacto da UE entre ambas as entidades.

Sabemos que a União Europeia é alvo de críticas e o próprio Euro está longe de ser perfeito, especialmente com a forma como o BCE (Banco Central Europeu) agiu no passado, mas simplesmente “sair” não é a melhor solução.

Cap. 4 – O Populismo ou “Ministério do Caminhar Estúpido”

Boris Johnson e Donald Trump. Eles são parecidos, eles pensam da mesma forma. A campanha para um tema tão importante para um país e até mesmo para um continente não foi totalmente baseada nas premissas racionais apresentados no tópico anterior.

Se assim fosse, o Brexit provavelmente não ocorreria de modo algum e o Reino Unido insistiria em remodelar a sua presença na UE. Parte da campanha pela Saída foi infiltrada por vários extremistas de direita com pontos de vista racistas, colocando a imigração como a mais importante – para alguns a única – razão para o Brexit.

Apresentador Faisal Islam foi chamado de “ignorante anti-Brexit muçulmano” durante um debate de TV. Andrew Edge, um organizador da Liga Inglesa de Defesa, que foi preso por uma manifestação violenta em Birmingham fez uma campanha aberta “Queremos nosso país de volta”, apoiando diretamente líder do UKIP, Nigel Farage.

A campanha tomou um tom tão xenófobo em certo momento que até mesmo alguns apoiadores políticos do Brexit começaram a evitar “estar perto” alguns dos adeptos.

A campanha tomou um tom tão xenófobo em certo momento, com protestos, distribuição de panfletos e anúncios de TV mostrando os hospitais cheios de pessoas, com uma “Britânica pura” que tenta obter algum tipo de assistência médica, enquanto os asiáticos, os não-brancos e pessoas espancadas esperam na fila do hospital, que até mesmo alguns apoiadores políticos do Brexit começaram a evitar “estar perto” alguns destes adeptos.

Um dos anúncios colocados em ônibus e outdoors afirmou: “Nós enviamos £ 350 milhões por semana para a UE. Ao invés disso, vamos financiar nosso NHS (Sistema Nacional de Saúde) – Vote pela Saída “, mas depois da vitória, Nigel Farage disse a repórteres” Nós não podemos garantir que este dinheiro vai realmente ir para o NHS”, afirmando que este foi um dos erros que a campanha havia cometido.

Mesmo a “independência” foi usada como lema para o Brexit, a mesma independência muitos países tiveram do Reino Unido após séculos de colonização.

Alguns críticos do racismo envolvido ainda lembraram que muitos membros do ISIS não são imigrantes ou, como no ataque da França, membros de outros países, mas como Jihadi John são na verdade cidadãos britânicos de nascimento.

A pior parte foi o assassinato de Jo Cox, uma política do Partido Trabalhista Britânico, defensora da campanha pela permanência e membro do Parlamento, que foi morta a tiros e esfaqueada em West Yorkshire por Thomas Mair, de 52 anos que gritou: “Grã-Bretanha em primeiro lugar”, num ataque claramente direcionado.

Isso mudou as pesquisas em favor da permanência até próximo do dia da votação, mas não o suficiente para garantir a vitória.

Boris Johnson apoiou fortemente a Brexit, mas manteve-se em uma posição de apoio ao “Permanecer” caso acontecesse, devido à sua própria agenda política para ser o próximo primeiro-ministro.


Cap. 5 – Perfil dos eleitores ou “A Piada mais Engraçada do Mundo”

Screenshot

O perfil dos eleitores conta uma história muito melhor sobre o motivo para o Brexit. (3)

Para começar, os jovens, os quais sofrerão fortemente os efeitos de uma eventual Saída votaram maciçamente contra o Brexit, em uma proporção de 75% entre as idades de 18 a 24 e 56% entre as idades de 25 a 49. O apoio maciço ao Brexit começou em eleitores somente acima de 50 anos de idade e de eleitores acima de 65 anos era de 61%.

Jovens, os quais sofrerão fortemente os efeitos de uma eventual Saída votaram maciçamente contra o Brexit, em uma proporção de 75% entre as idades de 18 a 24 e 56% entre as idades de 25 a 49.

O nível de escolaridade conta uma história semelhante, o “Permanecer” teve o apoio de 71% das pessoas que possuem nível superior, decaindo para 34% entre os com ensino médio, a única parcela da população que apoiou plenamente o Brexit.

O suprassumo é a divisão de partidos. Enquanto liberais democratas apoiaram o “Permanecer” em 73% e 69% dos Trabalhistas, adeptos do partido conservador de David Cameron deram 57% de seus votos para o Brexit, mesmo que o próprio primeiro-ministro defendesse o contrário.

UKIP sem surpresa votou 93% para o “Brexit”.


Cap. 6 – O futuro ou “Olhe sempre o lado bom da Vida”

David Cameron, uma das razões para o Brexit, vai renunciar ao cargo de primeiro-ministro, pois segundo ele, não pode “conduzir um navio para uma direção em que não acredita” e disse que um novo referendo deve ocorrer apenas após sua exoneração em outubro. No curto prazo, o futuro não é exatamente brilhante para o Reino Unido.

No curto prazo, o futuro não é exatamente brilhante para o Reino Unido

De acordo com o artigo 50 do Tratado da União Europeia, se um Estado-Membro pretende retirar-se da UE, deve notificar a UE e obriga a UE a tentar negociar um acordo de saída com esse estado. Pode haver uma janela de dois anos para acontecer e como mencionamos anteriormente, para negociar novos tratados, provavelmente individualmente entre o Reino Unido e os estados membros.

Reino Unido foi rebaixado por duas das três grandes agências de risco (Fitch e Moody’s),

Questões como a migração, acordos comerciais, vistos, tarifas e a regulamentações de tudo devem ser discutidas novamente. O primeiro efeito já aconteceu, como o Reino Unido sendo rebaixado por duas das três grandes agências de risco (Fitch e Moody’s), devido à incerteza do processo e o futuro econômico da terra natal da rainha.

A libra esterlina caiu mais de 9% desde a votação e muitos trabalhadores britânicos expatriados tem seus pagamentos em euros, mas com referência em libras esterlinas, tendo assim um corte automático de salário.

O futuro está longe de ser simples, pois países como a Escócia e a Irlanda do Norte podem decidir deixar o Reino Unido, adotar o euro e permanecer na UE, ameaçando assim a unicidade do estado soberano. A Irlanda do Norte pode ainda propor a voltar a Irlanda, que não faz parte do Reino Unido.


Cap. 6.1 – O Reino Unido sob pressão da UE ou “Eu assoo meu nariz em vocês! Famoso Rei Artur! “

Outro problema é a própria UE. A França em especial não está de toda satisfeita com o Brexit, pois a Europa está em uma situação atual de fragilidade e o evento poderia encorajar outros países membros a fazer o mesmo. A fim de evitar isso, a França e a UE irão muito provavelmente endurecer as relações e impor penalidades severas durante a processo, fazendo da Grã-Bretanha um exemplo.

França e a UE muito provavelmente endurecerão as relações e devem impor penalidades severas durante a processo, fazendo da Grã-Bretanha um exemplo.

Acordos bilaterais podem tornar-se muito mais difíceis de se obter. Em certo sentido, o Brexit é tão ruim para o Reino Unido como o é para a UE.

Por conta disso, após os resultados finais da votação, o nível das conversas se elevou significativamente no Parlamento, levantando-se propostas, tanto para ignorar a votação (o mais extremo), devido à sua margem muito pequena ou convocar um novo referendo, de modo a melhor explicar as consequências reais e graves do Brexit.

Cap. 7 – Brazil

O que acontece com o Brasil em tal problemático imbróglio? Considerando que nos últimos 13 anos o Brasil se comportou como um anão diplomático e definiu acordos comerciais principalmente com base em uma agenda ideológica, ao invés de um ponto de vista econômico, as consequências são bastante limitadas.

O Brasil se comportou como um anão diplomático e definiu acordos comerciais principalmente com base em uma agenda ideológica,

Por não ser um membro de um bloco econômico relevante, o Brasil pode lidar diretamente com o Reino Unido e com a UE, quer unidas ou separadas. Em uma provável mudança de governo, o Brasil tem uma oportunidade única para criar acordos comerciais rentáveis e mais concisos e acontecendo ou não, o Brexit passará a fazer parte desta mudança por aqui.

  1. http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_news/politics/2423783.stm
  2. https://www.uktradeinfo.com/Statistics/OverseasTradeStatistics/Pages/EU_and_Non-EU_Data.aspx
  3. http://www.politico.eu/article/graphics-how-the-uk-voted-eu-referendum-brexit-demographics-age-education-party-london-final-results/

Fontes: BBC, Legislation.gov.uk, Guardian, NY Times, UKTradeInfo, Vox, Conservative Party, BBC, The Daily Telegraph, CNBC, Bloomberg, UK Treasury, Politico.EU, Independent, Monty Python Flying Circus