Não temos detalhes do plano de corte de gastos do governo, mas em analisar o tal resumo, estes cortes de R$ 70 bilhões em 2 anos que já soavam como uma exugada de gelo enorme, agora o bloco de gelo aumentou.

Vamos aos pontos:

Combater Supersalários com limite de R$ 44.008,52 mensais. O governo vai precisar de um grande esforço passar isso no congresso e evitar a judicialização dos maiores beneficiários, o judiciário. Caso consiga, será uma significativa vitória.

Aumento do mínimo somente 2,5% acima da inflação, conforme o arcabouço.

Antes era inflação + PIB.

Em 2025, criaria uma economia de 0,5% a 0,8%, em meio às projeções de crescimento do PIB para 2024, porém tem potencial nulo em 2026, dadas as projeções de PIB abaixo de 2,5%.

Elevar a tabela do IR para R$ 5.000,00.

Concordamos que existe uma defasagem considerável na tabela e que o assunto precisa ser discutido.

Porém, além de errar o timing da discussão, soa promessa de campanha e foca em 2026.

Estimamos um custo de R$ 115 bilhões em média em 2 anos com a elevação da tabela, ou seja, acabaria com o esforço do corte de gastos e eleva ainda mais a despesa;

Taxação dos Ricos. Lembrando que é classe média, segundo o IBGE, que possui renda domiciliar mensal entre R$ 2,9 mil e R$ 7,1 mil e classe alta, superior a R$ 22 mil.

Para estar entre o 1% mais ricos, o salário deve ser acima de R$ 28.658,00;

A taxação seria de 10% a mais para quem ganha acima de R$ 50.000.

Salário? Dividendo? Bônus?

Se for por via de dividendos, é o pior dos casos, pois a isenção dos mesmos foi uma forma de reduzir a distorção do excesso de carga tributária sobre as empresas.

Para piorar, tudo em meio à uma reforma tributária.

Fora o fato de que não deve chegar a 200.000 o número de pessoas que ganha acima de R$ 50.000 no Brasil.

Cada uma “em média” pagaria R$ 250.000 para cobrir o rombo.

Dificilmente esta conta vinga os R$ 57,5 bilhões em média ao ano de perda de receita com o aumento da tabela do IR;

Aumentar a idade minima de aposentadoria dos militares.

Medida necessária no atual cenário. Redução de gastos ainda desconhecida;

Abono Salarial. Hoje, o abono salarial consome R$ 24.769.600.000 em média ao ano. A mudança da faixa de R$ 2.824 (dois salários mínimos) para R$ 2.640 para quem tem direito ao abono, não deve passar de R$ 2 bilhões de economia no seu ápice.

Emendas parlamentares. Mais uma vez, o entrave é com o congresso. Não poderão subir além dos 2,5% acima da inflação (limite do arcabouço fiscal) e 50% das emendas das comissões passarão a ir obrigatoriamente para a saúde pública.

Ponto históricamente difícil, pois o problema do Brasil com saúde e educação é total falta de foco, de direcionamento, de busca de metas e de controle de qualidade.

Não necessariamente dinheiro, o qual muitas vezes é desperdicado e muito mal carimbado, travando o orçamento e o espaço para despesas discricionárias.

Fora que a tal economia deve ser muito bem detalhada, pois o PLOA 2025 está aí;

Novos benefícios fiscais, como reduções de impostos ou isenções, são proibidas quando houver déficit público. Esta deveria ser uma regra há muito tempo.

Agora, é uma medida meramente preventiva, não ataca diretamente os gastos.

Por fim. Não hánada de muito concreto em termos de “contenção de gastos” que pudesse dizer que estamos no ‘caminho correto em termos fiscais’ e assim, aliviar a tensão dos investidores locais e apaziguar a revoada de investidores estrangeiros, uma das maiores em décadas no Brasil.

O governo está manejando criativamente o orçamento, pois o sinal de corte de gastos e austeridade fiscal, este não veio.

De dezembro de 2022 a setembro deste ano, o governo Lula incrementou em torno de R$ 349 bilhões em gastos e a dívida bruta chegou aos 78,3% tendo começado em 2023 com 71,7%, sendo R$7,1 trilhões de Dívida Líquida do Setor Público e R$8,9 trilhões de Dívida Bruta do Governo Geral.

O PLOA de 2025 prevê gastos de R$ 166,6 bilhões, acima dos R$ 151,4 bilhões de 2024, um aumento de 10,33% e ao considerarmos que, segundo minhas projeções, o IPCA deva fechar próximo de 5%, já existe um problema.

Neste sentido, o crescimento já supera o arcabouço fiscal, mesmo considerando o aumento de receitas em torno de 10% para este ano.

O relatório Focus tem média de déficit primario de -0,7% do PIB em 2025, em torno de R$ 79 bilhões e já no Prisma, é R$ 89,6 bilhões e dívida bruta de 81,73% do PIB.

Vemos um défict de R$ 90 bilhões caso o governo corte os gastos dentro da meta por ele estabelecida, de R$ 30 bilhões.

Neste ponto, o mercado financeiro só vai “comprar ” este pacote se estiver cansado demais da situação atual e para tentar sair do marasmo e da sangria que os ativos se encontram neste momento.

O problema é que o ‘local’ até pode viver o autoengano de um ano com este “corte”, já o investidor estrangeiro que saiu não volta mais e aquele continua a aqui, tende a fazer o mesmo.

Dizemos um ano, pois acreditar num corte de gastos em ano de eleição no Brasil é um enorme exercício de boa fé.

O Brasil cansa, mas cansa muito.