Quem leu ontem, entende hoje. Alertávamos sobre o risco da indefinição nas eleições italianas e sobre o testemunho de Bernanke no senado americano, os dois eventos off-calendar que mais mexem com o mercado nessa semana.
Os temores podem ser facilmente notados no índice VIX, uma medida de volatilidade da CBOE, a qual atingiu 18,99 pontos, uma alta diária de 34% (a maior em 18 meses). O cenário se assemelha àquele de 2011, na segunda edição da crise europeia.
Este é um ano que muitos querem simplesmente esquecer, mas aparentemente, alguns de seus resquícios continuam muito insistentes e o temor de uma reedição da volatilidade da crise põe a perder os frágeis ganhos até aqui obtidos.
A vitória parcial da centro-esquerda italiana no parlamento dá a Luigi Bersani o posto de primeiro ministro. Porém, o estrago está feito caso se confirme também que a centro-direita de Berlusconi terá a segunda maior bancada, ou seja, ninguém mais governa e as reformas vão por agua abaixo.
Deste modo, pode estar sepultado tudo o que Mario Monti fez até agora e que garantiu à Itália o acesso aos recursos internacionais e rolagem de sua dívida.
Por aqui, a independência do BC já está sepultada. Tombini afirmou categoricamente que o BC tem como função cuidar da inflação e não do crescimento econômico. Muito certo seria isso num país onde a autoridade monetária teve por muitos anos a função de formador de políticas econômicas.
Porém, a independência institucional não declarada se mostra em diversos aspectos, desde os cortes acelerados de juros até agora em níveis recordes até o reconhecimento de que a inflação está mais alta do que este BC suportaria.
Cito e repito, inflação de serviços e alimentos tem baixa sensibilidade às decisões de políticas monetárias e é daí que vem nossa inflação. Mais uma vez, o uso dos juros pode ser o “remédio mais amargo e forte” para um resfriado.
Mas é realmente possível que vejamos um aperto ainda este ano, pois depender de uma safra excelente para derrubar a inflação é contar demais com a sorte climática, a qual não foi muito favorável nos últimos anos.
Neste momento, não sei dizer se “está ruim, mas está bom” ou se “está bom, mas está ruim”. Dificil!