Onde estão os signatários da tal carta pela democracia de 2022?

Falo daquela com o erro histórico de se imaginar nas Arcadas da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, de 1977, sem nada parecido no contexto do ano passado, porque apenas discordavam de um governo que, sejamos justos, vivia sob um duríssimo e inapelável sistema de pesos e contrapesos que não existe com o atual? Daí, faz-se necessário perguntar novamente: quais liberdades estavam sendo feridas?

Os que me conhecem sabem o quanto desprezo a barbárie de criticar currículos para diminuir opositores de debate. Não me encontrarão nessa baixeza moral. Ao contrário, recorro exatamente aos currículos sérios de muitos dos signatários de tal carta para perguntar: onde estão senhores?

Se na realidade paralela a 1977 que tentaram colocar 2022, uma corte de Justiça se sobrepusesse aos outros poderes, haveria gritos de revolta. Se contássemos jornalistas sendo caçados e calados por suas opiniões, haveria gritos.

Se estivéssemos com presos sem o devido processo legal, se tivéssemos inquéritos sem fim, sem acesso aos autos, com o trabalho do advogado cerceado por um juiz supremo, se a ampla defesa estivesse sendo impedida, haveria gritos e protestos duros, sem vênia alguma. 

Se tivéssemos um presidente que faz joça de acordos internacionais, recebe ditadores corruptos com honras de Estado, no país, e adula outros sanguinários, no exterior, se este presidente adotasse em 2023 as podres práticas da cooptação no Congresso, haveria gritos de objeção. 

Se agora, em 2023, houvesse um Supremo reescrevendo a Constituição, ignorando o Congresso e nossa história, ignorando o povo brasileiro, haveria, certamente, protestos dos defensores da democracia, da ordem e do estado de Direito. Os de 1977, certamente. 

Mas cadê os gritos?

O “se” como conjunção subordinativa condicional que usei linhas atrás foi recurso meramente retórico porque tudo foi uma afirmação nua e crua da realidade brasileira.

Realidade que mostra sem dó os poderosos do STF e do Executivo afrontando a pétrea liberdade de expressão.

Realidade que tem colocado um Congresso de joelhos, com as raras exceções de praxe e por uma ou outra tentativa de reação, para os outros vértices do poder da Praça dos Três Poderes, que o povo ou está proibido ou não quer mais frequentar. 

Cadê os signatários da carta do ano passado e seus gritos?

O que tínhamos em 1977, que enxergaram em 2022 – apesar de coalhado de pesos e contrapesos – que não enxergam em 2023?

Diante de tantas afrontas ao nosso sistema legal, aos brasileiros, à nossa história, cadê os olhos e os currículos dos signatários da carta democrática? 

Onde estão? Por que o silêncio? Cadê o repúdio veemente, a revolta diante de arbitrariedades tão vis quanto frequentes? As Arcadas e seus homens de currículo não mais protegerão o Estado Democrático de Direito, as liberdades, o Brasil, os brasileiros? 

Não quero presenciar em 2023 a profecia de Ruy Barbosa, na sua célebre Oração aos Moços.

Quero crer que, ali, ele fazia uma denúncia, não prolatava uma sentença. 

Porque a inocência só nos é grata na infância. 

Já a omissão é agravante na vida adulta.

Sob ou sobre a Arcadas.

Ps.: o artigo acima foi originalmente escrito e publicado na manhã deste dia 12/09/2023 no perfil do X (antigo Twitter) do autor.