Fiquei impressionado com a quarta-feira (28/05).

Não pelo preço da coisa em si. Mas pelo o que existe por trás do preço da coisa. Ou ainda pela micro-demonstração que a coisa deu do que pode acontecer quando de fato o Federal Reserve começar a apertar a política monetária.

A coisa entenda-se, é o Treasury de 10 anos e não dá pra simplesmente ignorar o que ela provocou em nosso mercado em míseros três dias.

Desde que o Bernanke discursou, e depois respondeu, e depois o FOMC falou, o movimento na curva de treasuries foi bastante significativo, e isso produziu efeitos quasi-nefastos em nosso mercado doméstico. Naquele mesmo dia, lembro-me bem, o ouro estava zerado, foi para uma alta de 2,5%, zerou sua alta pouco tempo depois e ainda inverteu o sinal.

Os treasuries fizeram low e depois fizeram high e isso levou a um salto bastante expressivo na inclinação da nossa própria curva de juros (gosto de medir isso pela trava de Janeiro 17 contra Janeiro 15 e ela abriu quase que instantaneamente uns oito basis points nessa brincadeira).

Naquele dia até comentei com um amigo sobre a possibilidade de se fazer um “zero cost” no S&P vendendo call de 1700 para comprar put de 1600 porque na minha cabeça aquele conjunto de preços de tudo me sugeria que de fato o S&P havia feito o high do ano, mas o negócio andou tão rápido que não deu tempo de fazer à custo zero…

De lá pra cá, vimos o S&P operar abaixo de 1640, voltar pra quase 1675 e fechar na terça-feira ao redor dos 1660, que em minha opinião levando-se em consideração a abertura das treasuries de hoje foi muito bom. O mercado parece estar tranqüilo lá na terra do Tio Sam, como o próprio VIX operando ainda bem abaixo de 20% a.a. nos mostra… Mas e aqui?

Bom, aqui o que eu vi foi fundo estopando NTN-B ontem e hoje, pra começo de conversa. E não foi uma perda de dinheiro pequena não, estamos falando de papéis na duration de uma NTN-B 2050 abrindo quase 50 basis points em menos de uma semana, com pouco lote. Hoje inclusive teve um leilãozinho do Tesouro de Bs curtas e ele mal colocou. Cadê a demanda?

Também vi as travas de DI “se arregaçarem”. Só hoje, aquela inclinação de 15 com 17 que comentei acima saiu do patamar de 75 pontos para os 87 pontos de diferencial (e isso com uma taxa forward lá nas alturas) e também vi o DI Janeiro 2023 começar a namorar com o patamar de 10,50% a.a. Estrangeiros parecem ter começado a “sair de pré” aqui no Brasil, seja no DI, seja na papelada. E a porta me parece meio estreita.

Por falar em porta estreita, dólar operando próximo de R$ 2,10 sem sinal de nosso querido Banco Central intervir em função do aumento de volatilidade também não poderia ser algo a passar despercebido. O filho chora, e a mãe não escuta.

Também vi que a VALE despencou e fechou abaixo dos 30,00 que muitos consideram um excelente ponto de compra, e a OGX despencou mais ainda. Aliás, a OGX operava hoje, no fechamento, em patamar bem inferior ao preço médio do novo short pós-ampliação de limite da BM&FBovespa sobre o free floating da empresa. Claro oras…

Se o mundo pode secar de grana, todas as empresas com grande alavancagem financeira a princípio devem sofrer e OGX é uma delas, além é claro de ter peso considerável no índice e exposição expressiva de estrangeiros. Quem esperava um short squeeze na OGX já deve ter perdido suas convicções e deveria começar a repensar suas expectativas nesse momento, na minha humilde opinião.

O recadinho está claro. O Treasury quebrou o Treasurer porque o Treasurer não esperava que isso fosse acontecer tão cedo. Sim, todos nós esperávamos que isso fosse acontecer um dia, e muitas pessoas realmente já escreveram bastante sobre o efeito que a “secagem de dinheiro” no mundo poderia gerar nas economias emergentes mais vulneráveis.

Mas a grande verdade é que todo mundo enxergava isso acontecendo ainda bem mais pra frente. Só que na semana passada, e hoje, temos que admitir, a economia norte-america apresentou, na margem, números relativamente excelentes que parecem comprovar uma recuperação econômica mais sustentável e que poderiam levar o FED a já reduzir o quantitative easing ou mesmo encerrá-lo muito em breve.

Os EUA estão “bombando”, enquanto o resto do mundo não está. Eles parecem ter a “primeira derivada positiva”, enquanto na Europa, no Japão, e nos emergentes, ela me pareça ser ainda bem negativa.

Ok, posso estar errado e logo mais poderemos ver novas rodadas de números me desmentindo, mostrando que os EUA ainda estão na draga, ou mesmo que os resultados das empresas no segundo trimestre não serão tão bons.

Porém, não tenho como ignorar a evolução dos preços relativos entre EUA e o resto do mundo nos últimos dias, sobretudos aqueles mais relacionados a fundamentos econômicos. Acho que pode ter finalmente chegado a hora de começarmos a ver certa “desinflação” dos ativos nas economias emergentes. Estouro de bolha. Talvez…